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Foto do escritorCarlos Felipe

Síndromes tireoidianas na gestação: diagnóstico e manejo clínico

Atualizado: 12 de nov.

A gestação é um período de intensas alterações hormonais, sendo a tireoide um dos órgãos mais afetados.


Síndromes tireoidianas na gestação podem complicar o curso da gestação e ter efeitos adversos significativos tanto para a mãe quanto para o feto. A avaliação e o manejo adequados são essenciais para reduzir riscos e melhorar os desfechos clínicos.



Alterações fisiológicas da tireoide na gestação


Durante a gravidez, ocorrem adaptações fisiológicas na função tireoidiana devido à ação de hormônios gestacionais:


  1. Aumento da gonadotrofina coriônica humana (hCG):


    • A hCG possui uma estrutura similar ao TSH, estimulando a produção de hormônios tireoidianos, especialmente no primeiro trimestre.

    • Esse estímulo adicional pode reduzir levemente os níveis de TSH, que podem ficar abaixo do limite inferior em algumas gestantes saudáveis.


  2. Aumento da globulina ligadora de tiroxina (TBG):


    • O estrogênio eleva a produção de TBG, resultando em maior ligação de hormônios tireoidianos na circulação.

    • Esse aumento demanda uma produção maior de tiroxina (T4) para manter a homeostase hormonal.


  3. Metabolismo fetal:


    • A tireoide fetal começa a funcionar a partir do segundo trimestre, mas, até então, o feto depende dos hormônios tireoidianos maternos, essenciais para o desenvolvimento neurológico e esquelético.


Principais síndromes tireoidianas na gestação


1. Hipotireoidismo na gravidez


O hipotireoidismo é caracterizado por uma produção insuficiente de hormônios tireoidianos (T4 e T3) e elevação do TSH. Na gravidez, pode ser subclínico ou clínico, dependendo da elevação dos níveis de TSH e da presença de sintomas.



Causas


  • Doença de Hashimoto: Principal causa de hipotireoidismo na gravidez, sendo uma condição autoimune que leva à destruição da glândula tireoide.

  • Deficiência de iodo: Em algumas regiões, a deficiência de iodo contribui para a baixa produção de T4. No Brasil, por lei, é garantido o acesso ao sal iodado, o que evita essa complicação na maioria absoluta das regiões do país.



Sintomas


  • Cansaço extremo

  • Constipação

  • Intolerância ao frio

  • Pele seca e cabelos quebradiços



Complicações


  • Maternas: Aumento do risco de pré-eclâmpsia, descolamento prematuro de placenta, anemia gestacional e hemorragia pós-parto.

  • Fetais: Risco de retardo no desenvolvimento neurológico, baixo peso ao nascer e parto prematuro.



Diagnóstico


  • TSH e T4 Livre: Níveis elevados de TSH e baixos de T4 livre indicam hipotireoidismo clínico. No hipotireoidismo subclínico, apenas o TSH está elevado.

  • Anticorpos Anti-TPO: Podem ser solicitados para auxiliar no diagnóstico.



Tratamento


  • Levotiroxina: O tratamento é realizado com reposição de levotiroxina, ajustada de acordo com os níveis de TSH.


Abaixo, segue tabela de tratamento empírico para hipotireoidismo subclínico gestacional:

Valor de TSH

Conduta

< 2,5μUI/mL

Normal

≥ 2,5μUI/mL < 4μUI/mL

Solicitar Anti-TPO

≥ 4μUI/mL

Iniciar Levotiroxina 50mcg MID empírico

Importante frisar a necessidade de acompanhamento e ajustes constantes. Esse guia foi feito para garantir uma conduta imediata em consultório e espera um seguimento mais completo e mais aprofundado do profissional médico e não exclui uma avaliação ou consulta profissionais.



  • Monitoramento regular: O TSH deve ser monitorado a cada 4-6 semanas para ajuste de dose.



2. Hipertireoidismo na gestação


O hipertireoidismo é caracterizado pela produção excessiva de hormônios tireoidianos e supressão do TSH.

Causas

  • Doença de Graves: A causa mais comum de hipertireoidismo na gestação, sendo uma condição autoimune em que anticorpos estimulam a tireoide.

  • Tireoidite gestacional transitória: Associada a altos níveis de hCG, que estimulam a tireoide no início da gravidez.

Sintomas

  • Taquicardia

  • Perda de peso

  • Ansiedade

  • Tremores

  • Intolerância ao calor


Complicações

Diagnóstico

  • TSH, T4 e T3 Livre: Níveis baixos de TSH e altos de T4 e/ou T3 confirmam o diagnóstico.

  • Anticorpos TRAb: Indicados para confirmar a doença de Graves, principalmente quando há suspeita de complicações fetais.

Tratamento

  • Propiltiouracil (PTU): Usado no primeiro trimestre, possui menor risco de efeitos teratogênicos.

  • Metimazol: Alternativa possível no segundo e terceiro trimestres.

  • Cirurgia: Raramente necessária, mas pode ser considerada se o tratamento medicamentoso for ineficaz.

3. Tireoidite pós-parto

A tireoidite pós-parto é uma condição autoimune que pode ocorrer dentro de um ano após o parto e apresenta fases de hipertireoidismo e hipotireoidismo.

Sintomas

  • Hipertireoidismo transitório: Palpitações, irritabilidade e perda de peso.

  • Hipotireoidismo: Fadiga, constipação e depressão.

Diagnóstico

  • TSH, T4 e T3: Alternância entre níveis altos e baixos, dependendo da fase da doença.

  • Anticorpos Anti-TPO: Frequentemente presentes em mulheres com tireoidite autoimune.

Tratamento

4. Nódulos tireoidianos e câncer de tireoide na gestação

Nódulos tireoidianos detectados na gravidez devem ser investigados cuidadosamente, uma vez que cerca de 5-10% podem ser malignos. A avaliação do nódulo inclui ultrassonografia e, em alguns casos, punção aspirativa por agulha fina (PAAF).

Conduta

  • Nódulos Suspeitos: A cirurgia pode ser adiada para após o parto, exceto em casos de alta suspeita.

  • Monitoramento: Ultrassonografia a cada trimestre para avaliar crescimento do nódulo.

Considerações no monitoramento e no tratamento das disfunções tireoidianas na gestação


O manejo das disfunções tireoidianas na gravidez requer ajustes frequentes na medicação e acompanhamento contínuo dos níveis hormonais:

  • Avaliações mensais: Recomenda-se verificar o TSH e T4 a cada 4 a 6 semanas.

  • Ajustes na dosagem de Levotiroxina: Em gestantes com hipotireoidismo pré-existente, a dosagem de levotiroxina é geralmente aumentada em 30% a 50% logo no início da gravidez.

  • Interrupção segura de antitireoidianos: Nos casos de hipertireoidismo, a descontinuação dos medicamentos deve ser feita gradualmente após o parto.

Impacto das disfunções tireoidianas no feto e na criança


Os hormônios tireoidianos maternos são fundamentais para o desenvolvimento neurológico fetal, especialmente no primeiro trimestre. A falta ou excesso desses hormônios pode ter consequências duradouras, como:

  • Hipotireoidismo materno não tratado: Pode estar relacionado dificuldades de aprendizado e desenvolvimento cognitivo prejudicado na criança.

  • Hipertireoidismo materno não tratado: Pode resultar em restrição de crescimento intrauterino e complicações neonatais.

Estratégias de prevenção e educação em saúde


1. Suplementação de Iodo


  • A suplementação adequada de iodo é fundamental para evitar o hipotireoidismo em áreas com deficiência desse nutriente.


2. Rastreamento precoce


  • Realizar rastreamento de disfunções tireoidianas em gestantes de alto risco (ex.: histórico familiar de doença autoimune) pode permitir o diagnóstico precoce.


3. Educação e suporte à gestante


  • Orientar sobre a importância do acompanhamento regular e da adesão ao tratamento é essencial para evitar complicações.


Imagem que representa avaliação de tireóide em paciente gestante.

O manejo adequado das síndromes tireoidianas na gravidez requer uma abordagem multidisciplinar que inclui monitoramento regular dos níveis hormonais e ajustes no tratamento.


A identificação precoce e o acompanhamento contínuo dessas condições são fundamentais para garantir o bem-estar da mãe e do feto, evitando complicações a curto e longo prazo.

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