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Foto do escritorCarlos Felipe

Síndrome de transfusão feto-fetal (STFF): causas, diagnóstico e manejo

Atualizado: 11 de dez.

A Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF) é uma complicação grave que ocorre exclusivamente em gestações gemelares monocoriônicas, caracterizada por um desequilíbrio no fluxo de sangue entre os fetos devido à comunicação anormal nos vasos da placenta compartilhada.


Essa condição, se não tratada, pode levar a complicações graves, incluindo morte fetal e neonatal.


Neste post, discutiremos:

  • O que é a STFF e como ela ocorre.

  • Suas causas e fatores de risco.

  • Os sinais clínicos e métodos diagnósticos.

  • O manejo clínico e os desfechos.



O que é a síndrome de transfusão feto-fetal?


A STFF ocorre quando há um fluxo de sangue desequilibrado entre os gêmeos em uma gestação monocoriônica, devido à presença de anastomoses placentárias (conexões vasculares entre as circulações fetais).


Essas anastomoses podem ser:


  • Arteriovenosas (AV): Conexões entre uma artéria de um gêmeo e uma veia do outro.

  • Arterioarteriais (AA) ou Venovenosas (VV): Menos comuns, mas podem influenciar a condição.


O gêmeo que doa sangue é chamado de doador, enquanto o que recebe sangue em excesso é o receptor.


Gêmeos

Fisiopatologia


  1. Desequilíbrio no fluxo sanguíneo

  2. Líquido amniótico

    • O desequilíbrio no volume de sangue afeta a produção de líquido amniótico:

  3. Deterioração progressiva

    • Sem intervenção, os gêmeos podem evoluir para insuficiência cardíaca, hidropsia fetal e óbito.

Fatores de risco


A STFF ocorre exclusivamente em:

  • Gestações monocoriônicas: Onde os gêmeos compartilham uma única placenta.

  • Anastomoses placentárias: São encontradas em todas as gestações monocoriônicas,

  • onde apenas 10 a 15% evoluem para STFF.



Diagnóstico


O diagnóstico é feito com base na história obstétrica, ultrassonografia e exames complementares.


1. História clínica


  • A gestante pode relatar desconforto abdominal devido ao polidrâmnio do receptor.

  • Aumento rápido do volume uterino pode ser um sinal de alerta.



2. Ultrassonografia obstétrica


O exame de escolha para diagnóstico e classificação da STFF.


Critérios diagnósticos:


  • Monocorionicidade: Confirmada pela presença de uma única placenta e sinal de "T" na ultrassonografia inicial (o sinal do "T" indica gestação monocoriônica-diamniótica).

  • Discordância no volume de líquido amniótico:

    • Doador: Bolsa vertical máxima < 2 cm (oligodrâmnio).

    • Receptor: Bolsa vertical máxima > 8 cm antes de 20 semanas ou > 10 cm após 20 semanas (polidrâmnio).


  • Diferença no crescimento fetal: Gêmeo doador frequentemente apresenta restrição de crescimento.



3. Classificação de Quintero


A gravidade da STFF é avaliada pelo sistema de Quintero:

Estágio

Descrição

I

Discordância no líquido amniótico, mas com fluxo Doppler normal.

II

Ausência de bexiga visível no doador, fluxo Doppler ainda normal.

III

Fluxo Doppler anormal (ex.: fluxo reverso na artéria umbilical ou ducto venoso).

IV

Sinais de hidropsia fetal em um ou ambos os gêmeos.

V

Óbito de um ou ambos os gêmeos.

Complicações


A STFF pode causar complicações graves tanto para o doador quanto para o receptor:


1. Complicações no doador

  • Restrição de Crescimento Intrauterino (CIUR).

  • Anemia grave.

  • Insuficiência placentária.


2. Complicações no receptor

  • Polidrâmnio excessivo, aumentando o risco de parto prematuro.

  • Hipervolemia e insuficiência cardíaca.

  • Hidropsia fetal.



Manejo clínico


O manejo da STFF depende da gravidade, da idade gestacional e das condições clínicas dos gêmeos.



1. Conduta expectante


  • Para casos leves (estágio I de Quintero).

  • Monitoramento ultrassonográfico semanal ou quinzenal para avaliar progressão.



2. Intervenções terapêuticas


A. Amniocentese redutora

  • Indicada para reduzir o volume de líquido amniótico no receptor e aliviar a pressão uterina.

  • Temporária, mas pode melhorar o prognóstico em casos leves.


B. Ablação a laser das anastomoses placentares

  • Tratamento de escolha em casos moderados a graves (estágios II-IV).

  • Objetivo: Interromper as comunicações vasculares anormais.

  • Taxa de sobrevivência de pelo menos um gêmeo em 80-85% dos casos tratados.


C. Transfusão intrauterina

  • Indicada em casos de anemia fetal grave no doador.


D. Parto prematuro

  • Indicado em casos de deterioração fetal, geralmente após 32-34 semanas.



3. Cuidados pós-natais

  • Monitorar os neonatos para complicações relacionadas à prematuridade e hemólise.

  • Avaliação neurológica para descartar sequelas.



Prognóstico


O prognóstico depende do estágio da síndrome e do tratamento:

  • Sem tratamento: Taxa de mortalidade de 80-90%.

  • Ablação a laser: Sobrevivência de pelo menos um gêmeo em 80-85% dos casos.

  • Prematuridade: Principal fator que influencia o desfecho neonatal.


A Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF) é uma complicação obstétrica grave que exige diagnóstico precoce e manejo especializado.


O tratamento com ablação a laser das anastomoses placentárias revolucionou os desfechos para essas gestações, reduzindo significativamente a morbimortalidade.


O acompanhamento cuidadoso por uma equipe multidisciplinar é essencial para garantir os melhores resultados para os gêmeos e a mãe.

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Fotos disponibilizadas por IA, Pexels ou Unsplash.

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