A pré-eclâmpsia é uma complicação hipertensiva específica da gravidez, caracterizada por hipertensão e disfunção orgânica que surge após 20 semanas de gestação.
Esta condição pode afetar múltiplos sistemas e representa uma das principais causas de morbidade e mortalidade materna e perinatal em todo o mundo.
Neste post, abordaremos:
O que é pré-eclâmpsia e como ela ocorre.
Seus critérios diagnósticos.
As complicações associadas.
Estratégias de manejo e prevenção.
O que é pré-eclâmpsia?
A pré-eclâmpsia é uma síndrome materno-fetal que ocorre em gestantes previamente normotensas, caracterizada por hipertensão e sinais de disfunção orgânica, como proteinúria, disfunção renal, alterações hepáticas e comprometimento fetal.
Critérios diagnósticos
Segundo o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG), a pré-eclâmpsia é diagnosticada quando:
Pressão arterial ≥ 140/90 mmHg em duas ocasiões com intervalo de pelo menos 4 horas após 20 semanas de gestação.
Disfunção de órgãos-alvo ou proteinúria, incluindo:
Proteinúria: ≥ 300 mg em 24 horas ou relação proteína/creatinina ≥ 0,3.
Trombocitopenia: Plaquetas < 100.000/mm³.
Disfunção hepática: Enzimas hepáticas (TGO/TGP) ≥ 2 vezes o limite superior normal (acima de 70U/L se existirem medidas anteriores ou acima de 40U/L se medida única).
Disfunção renal: Creatinina sérica > 1,1 mg/dL ou duplicação dos valores basais.
Edema pulmonar.
Alterações neurológicas ou visuais: Ex.: cefaleia persistente ou escotomas.
Fisiopatologia da pré-eclâmpsia
A fisiopatologia da pré-eclâmpsia é complexa, envolvendo disfunção endotelial, insuficiência placentária e respostas inflamatórias exacerbadas.
1. Deficiência na placenta
Primeiro Estágio (início da gravidez): Defeito na invasão do trofoblasto na decídua materna impede a remodelação adequada das artérias espirais. Isso resulta em:
Redução do fluxo sanguíneo placentário.
Hipóxia e liberação de fatores antiangiogênicos.
2. Disfunção endotelial sistêmica
Segundo Estágio (após 20 semanas): A hipóxia placentária desencadeia a liberação de fatores inflamatórios e tóxicos para o endotélio materno, como:
sFlt-1 (fator solúvel semelhante à tirosina quinase 1).
Endoglina solúvel.
Essa cascata resulta em:
Vasoconstrição.
Aumento da permeabilidade vascular.
Redução da perfusão em órgãos-alvo, como rins, fígado e cérebro.
Fatores de risco
Fatores maternos
História de pré-eclâmpsia em gestação anterior.
Idade materna < 18 anos ou > 35 anos.
Obesidade ou ganho excessivo de peso durante a gravidez.
Doenças preexistentes, como hipertensão crônica, diabetes mellitus, lúpus ou doença renal.
Fatores obstétricos
Primiparidade.
Gestação gemelar ou molar.
Síndromes genéticas ou placentárias (ex.: síndrome antifosfolípide).
Classificação da pré-eclâmpsia
1. Pré-eclâmpsia sem sinais de gravidade
Hipertensão com proteinúria, mas sem comprometimento de órgãos-alvo.
Geralmente manejada com acompanhamento ambulatorial.
2. Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade
Presença de hipertensão associada a um ou mais sinais de disfunção de órgãos-alvo, como:
Trombocitopenia.
Lesão renal progressiva.
Edema pulmonar.
Sintomas neurológicos (ex.: cefaleia, convulsões).
Complicações
A pré-eclâmpsia pode evoluir para condições graves, incluindo:
Hemólise, Elevação de enzimas hepáticas e Plaquetopenia.
Pode progredir rapidamente para insuficiência hepática ou hemorragia intracapsular.
2. Eclâmpsia
Convulsões tônico-clônicas generalizadas, geralmente precedidas por cefaleia, visão turva ou dor epigástrica.
Complicação grave com risco de óbito materno e fetal.
4. Risco neonatal
Restrição de Crescimento Intrauterino (CIUR).
Prematuridade induzida.
Hipóxia e sofrimento fetal.
Abordagem diagnóstica
1. História clínica
Identificar fatores de risco.
Avaliar sintomas sugestivos de pré-eclâmpsia: cefaleia persistente, alterações visuais, dor epigástrica.
2. Exame físico
Medição precisa da pressão arterial em repouso.
Avaliar edema, especialmente em face e mãos.
3. Exames complementares
Laboratoriais:
Função renal (ureia, creatinina).
Enzimas hepáticas (TGO/TGP).
Proteinúria (EAS ou coleta de 24h).
Ultrassonografia obstétrica com doppler:
Avaliação da vitalidade fetal e fluxo nas artérias uterinas.
Manejo da pré-eclâmpsia
O manejo depende da gravidade da condição e da idade gestacional:
1. Pré-eclâmpsia sem sinais de gravidade
Monitoramento ambulatorial:
Avaliações semanais de PA, proteinúria e exames laboratoriais.
Ultrassonografias seriadas para avaliar crescimento fetal.
Antihipertensivos orais:
Ex.: Metildopa, nifedipina, hidralazina.
2. Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade
Internação imediata: Monitoramento contínuo materno-fetal.
Controle pressórico imediato:
Hidralazina intravenosa ou labetalol.
Prevenção de eclâmpsia:
Sulfato de magnésio como anticonvulsivante.
Corticosteroides:
Betametasona ou dexametasona para acelerar a maturação pulmonar fetal em gestações < 34 semanas.
Interrupção da gestação:
A decisão deve equilibrar os riscos para a mãe e o feto, geralmente indicada ≥ 37 semanas ou em casos de agravamento materno-fetal.
Prevenção
1. AAS em dose baixa
Iniciar entre 12 e 16 semanas de gestação em mulheres com alto risco, reduzindo a incidência de pré-eclâmpsia.
2. Suplementação de cálcio
Indicada em populações de alto risco com baixa ingestão de cálcio.
A pré-eclâmpsia é uma complicação gestacional potencialmente grave que requer identificação precoce e manejo especializado.
A monitorização rigorosa e intervenções oportunas podem prevenir complicações maternas e fetais, garantindo melhores desfechos para a gestante e o bebê.
Profissionais de saúde devem estar atentos aos sinais e sintomas dessa condição para oferecer o melhor cuidado possível.