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Foto do escritorCarlos Felipe

Pré-eclâmpsia: fisiopatologia, diagnóstico e manejo

A pré-eclâmpsia é uma complicação hipertensiva específica da gravidez, caracterizada por hipertensão e disfunção orgânica que surge após 20 semanas de gestação.


Esta condição pode afetar múltiplos sistemas e representa uma das principais causas de morbidade e mortalidade materna e perinatal em todo o mundo.


Neste post, abordaremos:

  • O que é pré-eclâmpsia e como ela ocorre.

  • Seus critérios diagnósticos.

  • As complicações associadas.

  • Estratégias de manejo e prevenção.



O que é pré-eclâmpsia?


A pré-eclâmpsia é uma síndrome materno-fetal que ocorre em gestantes previamente normotensas, caracterizada por hipertensão e sinais de disfunção orgânica, como proteinúria, disfunção renal, alterações hepáticas e comprometimento fetal.



Critérios diagnósticos


Segundo o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG), a pré-eclâmpsia é diagnosticada quando:

  1. Pressão arterial ≥ 140/90 mmHg em duas ocasiões com intervalo de pelo menos 4 horas após 20 semanas de gestação.

  2. Disfunção de órgãos-alvo ou proteinúria, incluindo:

    • Proteinúria: ≥ 300 mg em 24 horas ou relação proteína/creatinina ≥ 0,3.

    • Trombocitopenia: Plaquetas < 100.000/mm³.

    • Disfunção hepática: Enzimas hepáticas (TGO/TGP) ≥ 2 vezes o limite superior normal (acima de 70U/L se existirem medidas anteriores ou acima de 40U/L se medida única).

    • Disfunção renal: Creatinina sérica > 1,1 mg/dL ou duplicação dos valores basais.

    • Edema pulmonar.

    • Alterações neurológicas ou visuais: Ex.: cefaleia persistente ou escotomas.



Fisiopatologia da pré-eclâmpsia


A fisiopatologia da pré-eclâmpsia é complexa, envolvendo disfunção endotelial, insuficiência placentária e respostas inflamatórias exacerbadas.


1. Deficiência na placenta


  • Primeiro Estágio (início da gravidez): Defeito na invasão do trofoblasto na decídua materna impede a remodelação adequada das artérias espirais. Isso resulta em:

    • Redução do fluxo sanguíneo placentário.

    • Hipóxia e liberação de fatores antiangiogênicos.



2. Disfunção endotelial sistêmica


  • Segundo Estágio (após 20 semanas): A hipóxia placentária desencadeia a liberação de fatores inflamatórios e tóxicos para o endotélio materno, como:

    • sFlt-1 (fator solúvel semelhante à tirosina quinase 1).

    • Endoglina solúvel.


  • Essa cascata resulta em:

    • Vasoconstrição.

    • Aumento da permeabilidade vascular.

    • Redução da perfusão em órgãos-alvo, como rins, fígado e cérebro.



Fatores de risco


Fatores maternos


  • História de pré-eclâmpsia em gestação anterior.

  • Idade materna < 18 anos ou > 35 anos.

  • Obesidade ou ganho excessivo de peso durante a gravidez.

  • Doenças preexistentes, como hipertensão crônica, diabetes mellitus, lúpus ou doença renal.



Fatores obstétricos


  • Primiparidade.

  • Gestação gemelar ou molar.

  • Síndromes genéticas ou placentárias (ex.: síndrome antifosfolípide).



Classificação da pré-eclâmpsia


1. Pré-eclâmpsia sem sinais de gravidade


  • Hipertensão com proteinúria, mas sem comprometimento de órgãos-alvo.

  • Geralmente manejada com acompanhamento ambulatorial.



2. Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade


  • Presença de hipertensão associada a um ou mais sinais de disfunção de órgãos-alvo, como:

    • Trombocitopenia.

    • Lesão renal progressiva.

    • Edema pulmonar.

    • Sintomas neurológicos (ex.: cefaleia, convulsões).


Imagem de profissional da saúde aferindo pressão de mulher.

Complicações


A pré-eclâmpsia pode evoluir para condições graves, incluindo:


  • Hemólise, Elevação de enzimas hepáticas e Plaquetopenia.

  • Pode progredir rapidamente para insuficiência hepática ou hemorragia intracapsular.


2. Eclâmpsia

  • Convulsões tônico-clônicas generalizadas, geralmente precedidas por cefaleia, visão turva ou dor epigástrica.


  • Complicação grave com risco de óbito materno e fetal.


4. Risco neonatal

  • Restrição de Crescimento Intrauterino (CIUR).

  • Prematuridade induzida.

  • Hipóxia e sofrimento fetal.



Abordagem diagnóstica


1. História clínica

  • Identificar fatores de risco.

  • Avaliar sintomas sugestivos de pré-eclâmpsia: cefaleia persistente, alterações visuais, dor epigástrica.


2. Exame físico

  • Medição precisa da pressão arterial em repouso.

  • Avaliar edema, especialmente em face e mãos.


3. Exames complementares

  • Laboratoriais:

    • Hemograma (plaquetopenia).

    • Função renal (ureia, creatinina).

    • Enzimas hepáticas (TGO/TGP).

    • Proteinúria (EAS ou coleta de 24h).


  • Ultrassonografia obstétrica com doppler:

    • Avaliação da vitalidade fetal e fluxo nas artérias uterinas.



Manejo da pré-eclâmpsia


O manejo depende da gravidade da condição e da idade gestacional:


1. Pré-eclâmpsia sem sinais de gravidade


  • Monitoramento ambulatorial:

    • Avaliações semanais de PA, proteinúria e exames laboratoriais.

    • Ultrassonografias seriadas para avaliar crescimento fetal.


  • Antihipertensivos orais:

    • Ex.: Metildopa, nifedipina, hidralazina.



2. Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade


  • Internação imediata: Monitoramento contínuo materno-fetal.


  • Controle pressórico imediato:

    • Hidralazina intravenosa ou labetalol.


  • Prevenção de eclâmpsia:

    • Sulfato de magnésio como anticonvulsivante.


  • Corticosteroides:

    • Betametasona ou dexametasona para acelerar a maturação pulmonar fetal em gestações < 34 semanas.


  • Interrupção da gestação:

    • A decisão deve equilibrar os riscos para a mãe e o feto, geralmente indicada ≥ 37 semanas ou em casos de agravamento materno-fetal.



Prevenção


1. AAS em dose baixa

  • Iniciar entre 12 e 16 semanas de gestação em mulheres com alto risco, reduzindo a incidência de pré-eclâmpsia.


2. Suplementação de cálcio

  • Indicada em populações de alto risco com baixa ingestão de cálcio.


A pré-eclâmpsia é uma complicação gestacional potencialmente grave que requer identificação precoce e manejo especializado.


A monitorização rigorosa e intervenções oportunas podem prevenir complicações maternas e fetais, garantindo melhores desfechos para a gestante e o bebê.


Profissionais de saúde devem estar atentos aos sinais e sintomas dessa condição para oferecer o melhor cuidado possível.

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