O polidrâmnio é uma condição obstétrica caracterizada pelo acúmulo excessivo de líquido amniótico durante a gestação.
Essa alteração pode estar associada a complicações maternas, fetais ou placentárias e exige atenção médica cuidadosa para prevenir riscos tanto para a mãe quanto para o feto.
Neste post, abordaremos:
O que é o polidrâmnio e como ele é classificado.
Suas causas e implicações.
Os métodos diagnósticos, incluindo o uso do Índice de Líquido Amniótico (ILA).
As estratégias de manejo clínico.
O que é o Polidrâmnio?
O polidrâmnio é definido como um volume de líquido amniótico acima do normal para a idade gestacional.
Essa condição é avaliada principalmente por ultrassonografia, utilizando o Índice de Líquido Amniótico (ILA) ou a medida do maior bolsão vertical de líquido amniótico.
Critérios diagnósticos
Índice de Líquido Amniótico (ILA):
Normal: 8-24 cm.
Polidrâmnio: ILA > 24 cm.
Maior Bolsão Vertical (MBV):
Normal: 2-8 cm.
Polidrâmnio: MBV > 8 cm.
Classificação
O polidrâmnio é classificado com base na gravidade:
Causas do Polidrâmnio
O polidrâmnio pode ter causas maternas, fetais ou idiopáticas (sem causa identificada).
1. Causas maternas
Diabetes Mellitus Gestacional (DMG):
O excesso de glicose materna causa poliúria fetal, aumentando o volume de líquido amniótico.
Isoimunização RH:
Resulta em anemia fetal e aumento da circulação fetal, levando a maior produção de líquido.
Pré-eclâmpsia ou síndrome HELLP:
Alterações placentárias associadas podem predispor ao polidrâmnio.
2. Causas fetais
Anomalias congênitas:
Obstruções no trato digestivo (ex.: atresia esofágica ou duodenal) impedem a deglutição do líquido amniótico.
Defeitos do tubo neural, como anencefalia, podem alterar o controle da deglutição fetal.
Infecções congênitas:
Citomegalovírus (CMV) e toxoplasmose podem afetar o equilíbrio hidroeletrolítico fetal.
Gestação múltipla:
Na síndrome de transfusão feto-fetal, o gêmeo receptor apresenta polidrâmnio devido ao excesso de transfusão sanguínea.
3. Causas idiopáticas
Cerca de 20 a 50% dos casos de polidrâmnio não possuem causa identificável, especialmente em polidrâmnio leve.
Impactos do polidrâmnio
O excesso de líquido amniótico pode levar a complicações significativas para a mãe e o feto:
1. Complicações maternas
Parto prematuro: A distensão uterina aumenta o risco de contrações prematuras.
Rotura Prematura de Membranas (RPM): O aumento da pressão intrauterina favorece a rotura precoce.
Distócia: A distensão uterina excessiva pode dificultar o trabalho de parto.
Hemorragia pós-parto: Associada à atonia uterina após o parto.
2. Complicações fetais
Prolapso de cordão umbilical: Mais comum após a rotura das membranas.
Macrossomia: Frequente em gestações complicadas por diabetes.
Malformações congênitas: Em casos associados a anomalias estruturais fetais.
Diagnóstico do polidrâmnio
O diagnóstico é baseado na ultrassonografia obstétrica e na avaliação clínica.
1. Ultrassonografia
Índice de Líquido Amniótico (ILA): Realizado dividindo o útero em quatro quadrantes e somando as medidas do maior bolsão vertical em cada quadrante.
Maior Bolsão Vertical (MBV): Usado em casos específicos, como gestações gemelares.
2. Avaliação Fetal Detalhada
Exame morfológico: Para identificar anomalias congênitas.
Doppler fetal: Avalia a circulação e detecta síndrome de transfusão feto-fetal em gêmeos.
3. Exames maternos
Teste de Tolerância à Glicose (TOTG): Para investigar diabetes gestacional.
Sorologias para Infecções: Como toxoplasmose e CMV.
Manejo Clínico do Polidrâmnio
O manejo depende da gravidade do polidrâmnio, da idade gestacional e da causa subjacente.
1. Casos leves e assintomáticos
Monitoramento seriado com ultrassonografias.
Controle glicêmico rigoroso em casos de diabetes gestacional.
2. Casos moderados e graves
Amniocentese terapêutica:
Indicada para alívio da pressão uterina em polidrâmnio grave.
Consiste na remoção de líquido amniótico por via transabdominal.
Indometacina:
Pode ser usada para reduzir a produção de líquido amniótico, especialmente em gestações múltiplas.
Contraindicada após 32 semanas devido ao risco de fechamento prematuro do ducto arterial fetal.
3. Monitoramento Fetal
Cardiotocografia: Avaliar padrões da frequência cardíaca fetal e sinais de sofrimento fetal.
Perfil Biofísico Fetal: Avaliação adicional em casos de suspeita de sofrimento fetal.
4. Planejamento do Parto
Indução do Parto: Indicada em gestações a termo com polidrâmnio moderado ou grave.
Cesárea: Pode ser necessária em casos de macrossomia, sofrimento fetal ou complicações, como prolapso de cordão.
Prognóstico
O prognóstico do polidrâmnio varia conforme a causa e a gravidade:
Casos idiopáticos ou leves: Geralmente, têm bom prognóstico.
Casos graves associados a anomalias fetais: O desfecho depende do manejo adequado e da natureza da condição subjacente.
O polidrâmnio é uma condição que requer atenção cuidadosa durante o pré-natal devido aos riscos associados.
A avaliação detalhada das causas, o monitoramento regular do líquido amniótico e o manejo individualizado são fundamentais para reduzir complicações maternas e fetais.
A utilização de ferramentas como o Índice de Líquido Amniótico (ILA) e o acompanhamento multiprofissional permitem melhores desfechos obstétricos e neonatais.