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Foto do escritorCarlos Felipe

Polidrâmnio: causas, diagnóstico e manejo clínico

O polidrâmnio é uma condição obstétrica caracterizada pelo acúmulo excessivo de líquido amniótico durante a gestação.


Essa alteração pode estar associada a complicações maternas, fetais ou placentárias e exige atenção médica cuidadosa para prevenir riscos tanto para a mãe quanto para o feto.


Neste post, abordaremos:

  • O que é o polidrâmnio e como ele é classificado.

  • Suas causas e implicações.

  • Os métodos diagnósticos, incluindo o uso do Índice de Líquido Amniótico (ILA).

  • As estratégias de manejo clínico.



O que é o Polidrâmnio?


O polidrâmnio é definido como um volume de líquido amniótico acima do normal para a idade gestacional.


Essa condição é avaliada principalmente por ultrassonografia, utilizando o Índice de Líquido Amniótico (ILA) ou a medida do maior bolsão vertical de líquido amniótico.



Critérios diagnósticos



  • Maior Bolsão Vertical (MBV):

    • Normal: 2-8 cm.

    • Polidrâmnio: MBV > 8 cm.



Classificação


O polidrâmnio é classificado com base na gravidade:

  1. Leve: ILA entre 25-29 cm.

  2. Moderado: ILA entre 30-34 cm.

  3. Grave: ILA ≥ 35 cm ou MBV > 12 cm.



Causas do Polidrâmnio


O polidrâmnio pode ter causas maternas, fetais ou idiopáticas (sem causa identificada).


1. Causas maternas


  • Diabetes Mellitus Gestacional (DMG):

    • O excesso de glicose materna causa poliúria fetal, aumentando o volume de líquido amniótico.


  • Isoimunização RH:

    • Resulta em anemia fetal e aumento da circulação fetal, levando a maior produção de líquido.


  • Pré-eclâmpsia ou síndrome HELLP:

    • Alterações placentárias associadas podem predispor ao polidrâmnio.



2. Causas fetais


  • Anomalias congênitas:

    • Obstruções no trato digestivo (ex.: atresia esofágica ou duodenal) impedem a deglutição do líquido amniótico.

    • Defeitos do tubo neural, como anencefalia, podem alterar o controle da deglutição fetal.


  • Infecções congênitas:

    • Citomegalovírus (CMV) e toxoplasmose podem afetar o equilíbrio hidroeletrolítico fetal.

  • Gestação múltipla:

    • Na síndrome de transfusão feto-fetal, o gêmeo receptor apresenta polidrâmnio devido ao excesso de transfusão sanguínea.


3. Causas idiopáticas


Cerca de 20 a 50% dos casos de polidrâmnio não possuem causa identificável, especialmente em polidrâmnio leve.



Impactos do polidrâmnio


O excesso de líquido amniótico pode levar a complicações significativas para a mãe e o feto:


1. Complicações maternas


  • Parto prematuro: A distensão uterina aumenta o risco de contrações prematuras.

  • Rotura Prematura de Membranas (RPM): O aumento da pressão intrauterina favorece a rotura precoce.

  • Distócia: A distensão uterina excessiva pode dificultar o trabalho de parto.

  • Hemorragia pós-parto: Associada à atonia uterina após o parto.



2. Complicações fetais


  • Prolapso de cordão umbilical: Mais comum após a rotura das membranas.

  • Macrossomia: Frequente em gestações complicadas por diabetes.

  • Malformações congênitas: Em casos associados a anomalias estruturais fetais.



Diagnóstico do polidrâmnio

O diagnóstico é baseado na ultrassonografia obstétrica e na avaliação clínica.


1. Ultrassonografia


  • Índice de Líquido Amniótico (ILA): Realizado dividindo o útero em quatro quadrantes e somando as medidas do maior bolsão vertical em cada quadrante.

  • Maior Bolsão Vertical (MBV): Usado em casos específicos, como gestações gemelares.



2. Avaliação Fetal Detalhada


  • Exame morfológico: Para identificar anomalias congênitas.

  • Doppler fetal: Avalia a circulação e detecta síndrome de transfusão feto-fetal em gêmeos.



3. Exames maternos



Imagem de ultrassom em tela de computador.

Manejo Clínico do Polidrâmnio


O manejo depende da gravidade do polidrâmnio, da idade gestacional e da causa subjacente.


1. Casos leves e assintomáticos


  • Monitoramento seriado com ultrassonografias.

  • Controle glicêmico rigoroso em casos de diabetes gestacional.



2. Casos moderados e graves


  • Amniocentese terapêutica:

    • Indicada para alívio da pressão uterina em polidrâmnio grave.

    • Consiste na remoção de líquido amniótico por via transabdominal.


  • Indometacina:

    • Pode ser usada para reduzir a produção de líquido amniótico, especialmente em gestações múltiplas.

    • Contraindicada após 32 semanas devido ao risco de fechamento prematuro do ducto arterial fetal.



3. Monitoramento Fetal


  • Cardiotocografia: Avaliar padrões da frequência cardíaca fetal e sinais de sofrimento fetal.

  • Perfil Biofísico Fetal: Avaliação adicional em casos de suspeita de sofrimento fetal.



4. Planejamento do Parto


  • Indução do Parto: Indicada em gestações a termo com polidrâmnio moderado ou grave.

  • Cesárea: Pode ser necessária em casos de macrossomia, sofrimento fetal ou complicações, como prolapso de cordão.


Prognóstico


O prognóstico do polidrâmnio varia conforme a causa e a gravidade:


  • Casos idiopáticos ou leves: Geralmente, têm bom prognóstico.

  • Casos graves associados a anomalias fetais: O desfecho depende do manejo adequado e da natureza da condição subjacente.


O polidrâmnio é uma condição que requer atenção cuidadosa durante o pré-natal devido aos riscos associados.


A avaliação detalhada das causas, o monitoramento regular do líquido amniótico e o manejo individualizado são fundamentais para reduzir complicações maternas e fetais.


A utilização de ferramentas como o Índice de Líquido Amniótico (ILA) e o acompanhamento multiprofissional permitem melhores desfechos obstétricos e neonatais.

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