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Foto do escritorCarlos Felipe

Lacerações perineais no parto: classificação, diagnóstico e manejo

As lacerações perineais são lesões que ocorrem no períneo (a região entre a vagina e o ânus) durante o parto vaginal. Essas lacerações variam em gravidade e afetam diferentes camadas de tecido, desde a pele até estruturas mais profundas, como músculos e o esfíncter anal.


O conhecimento sobre as classificações das lacerações perineais é essencial para que os profissionais de saúde possam avaliar o trauma adequadamente, realizar o manejo correto e prevenir complicações a longo prazo para a paciente.



Classificação das lacerações perineais


As lacerações perineais são classificadas em quatro graus, que indicam a profundidade e a gravidade da lesão.


Essa classificação é importante, pois orienta o tipo de reparo necessário e permite uma melhor previsão das possíveis complicações, como dor, incontinência e disfunção sexual.



1. Laceração perineal de primeiro grau


  • Descrição: afeta apenas a pele do períneo, sem atingir o tecido muscular subjacente.

  • Sintomas: normalmente, lacerações de primeiro grau causam pouco ou nenhum desconforto e, em alguns casos, podem cicatrizar sozinhas sem necessidade de sutura.

  • Manejo: a sutura pode ser realizada em casos de sangramento ou desconforto, embora frequentemente seja suficiente realizar apenas uma limpeza cuidadosa e aplicação de compressas locais e pomadas para cicatrização.



2. Laceração perineal de segundo grau


  • Descrição: a laceração atinge tanto a pele quanto o músculo do períneo, mas sem comprometer o esfíncter anal.

  • Sintomas: as pacientes geralmente apresentam dor mais intensa em comparação com lacerações de primeiro grau, além de um sangramento mais significativo.

  • Manejo: a sutura é indicada para garantir a união dos músculos do períneo, favorecendo a cicatrização e a função adequada. O procedimento é realizado sob anestesia local, e uma técnica cuidadosa é fundamental para prevenir desconforto a longo prazo.



3. Laceração perineal de terceiro grau


  • Descrição: laceração que afeta a pele, o músculo do períneo e o esfíncter anal. É subdividida em três tipos:

    • Grau 3A: menos de 50% do esfíncter anal externo é rompido.

    • Grau 3B: mais de 50% do esfíncter anal externo é rompido.

    • Grau 3C: rompimento do esfíncter anal externo e interno.

  • Sintomas: as pacientes podem sentir dor intensa, inchaço e desconforto significativo na região perineal. O risco de incontinência anal aumenta, especialmente em graus de acometimento 3B e 3C.

  • Manejo: as lacerações de terceiro grau exigem sutura cuidadosa para restaurar a integridade do esfíncter anal. A técnica de reparo é realizada em várias camadas, e em alguns casos, pode ser necessário o uso de anestesia regional ou geral para assegurar o conforto e a precisão da sutura.



4. Laceração perineal de quarto grau


  • Descrição: a laceração mais grave, que se estende além do esfíncter anal, afetando o revestimento do reto.

  • Sintomas: este tipo de laceração causa dor intensa, grande perda de sangue, e pode resultar em incontinência fecal, além de um alto risco de infecções.

  • Manejo: o reparo de lacerações de quarto grau deve ser realizado em ambiente cirúrgico, pois envolve a reparação do esfíncter anal e da mucosa retal. Esse tipo de lesão requer técnica avançada para restaurar a função do esfíncter e prevenir complicações.

    É recomendado o uso de antibioticoprofilaxia para reduzir o risco de infecção.



Fatores de risco para lacerações perineais


Alguns fatores de risco estão associados ao aumento da probabilidade de lacerações perineais mais graves:

  1. Primeiro parto vaginal: primíparas apresentam maior risco de lacerações perineais.

  2. Parto instrumental: o uso de fórceps ou vácuo extrator aumenta a pressão no períneo, aumentando o risco de lesões.

  3. Macrossomia fetal: bebês com peso elevado aumentam o risco de estiramento excessivo dos tecidos perineais.

  4. Parto precipitado: partos rápidos limitam o tempo para adaptação do períneo e aumentam a probabilidade de lesões.

  5. Episiotomia: embora tenha sido amplamente utilizada, nem sempre é recomendada atualmente, mas ainda pode ser necessária em alguns casos para prevenir lacerações irregulares.


Diagnóstico das lacerações


O diagnóstico é feito por meio de inspeção visual e palpação cuidadosa, logo após o parto.


É essencial que o profissional realize uma avaliação minuciosa para identificar a extensão da laceração e, assim, classificar corretamente o grau de gravidade.


  • Avaliação clínica: exame visual para verificar a extensão da laceração e palpação para avaliar o comprometimento muscular e esfíncter anal.


  • Exame retal: em casos de lacerações suspeitas de terceiro e quarto grau, o exame retal é indicado para determinar o comprometimento do esfíncter anal e do revestimento retal.


A correta identificação do grau de laceração é crucial para guiar o manejo adequado e reduzir o risco de complicações.



Manejo e tratamento das lacerações perineais


Cada grau de laceração exige um manejo específico para promover a cicatrização e minimizar complicações:



Técnicas de sutura e reparo


  1. Primeiro e segundo graus:

    • Em lacerações de primeiro e segundo graus, o reparo geralmente é realizado com suturas absorvíveis em um ambiente de parto. A anestesia local é suficiente para o reparo, e a técnica busca aproximar os tecidos para promover uma cicatrização adequada.


  2. Terceiro e quarto graus:

    • As lacerações de terceiro e quarto graus exigem uma técnica de sutura mais complexa, com reparos em camadas, incluindo a reconstrução do esfíncter anal. Em muitos casos, é necessário realizar o procedimento em uma sala cirúrgica para garantir maior segurança.



Cuidados pós-operatórios


O pós-operatório para lacerações perineais inclui:

  • Analgésicos e antiinflamatórios: para alívio da dor e redução do inchaço.

  • Antibióticos: em lacerações de terceiro e quarto graus, para prevenir infecções.

  • Banhos de assento: banhos mornos ajudam a reduzir o desconforto e a promover a cicatrização.

  • Evitar constipação: dieta rica em fibras e o uso de amaciantes de fezes são recomendados para evitar esforço e desconforto durante a evacuação.




Complicações das lacerações perineais


As lacerações perineais, especialmente de terceiro e quarto graus, podem resultar em complicações significativas, tanto no curto quanto no longo prazo:

  1. Dor crônica: Algumas mulheres podem desenvolver dor crônica na região perineal, especialmente se a cicatrização for inadequada.

  2. Dispareunia: A presença de cicatrizes pode causar dor durante o ato sexual.

  3. Incontinência anal: Lacerações de terceiro e quarto graus, que comprometem o esfíncter anal, aumentam o risco de incontinência fecal.

  4. Infecção: A proximidade com o trato retal aumenta o risco de infecções em lacerações profundas, como as de quarto grau.


Mulher com as mãos no abdome indicando dor em região genital.

Prevenção das lacerações perineais


Existem algumas práticas que podem ajudar a prevenir lacerações perineais ou reduzir sua gravidade:


  1. Massagem perineal pré-natal: Realizar a massagem perineal nas semanas anteriores ao parto pode ajudar a aumentar a elasticidade do tecido e reduzir o risco de lacerações graves.

  2. Suporte perineal durante o parto: A técnica de proteção perineal durante o parto, especialmente na fase expulsiva, pode ajudar a minimizar lacerações.

  3. Posição de parto adequada: Algumas posições podem reduzir a pressão no períneo e facilitar a saída do bebê de forma menos traumática.

  4. Episiotomia restrita: A episiotomia, um corte cirúrgico no períneo para facilitar o parto, deve ser realizada apenas quando necessário e com indicação clara, uma vez que o procedimento pode aumentar o risco de lacerações de maior gravidade.


As lacerações perineais são lesões que podem ocorrer no parto vaginal, e seu manejo adequado é essencial para promover a recuperação e evitar complicações futuras para a paciente.


Com a classificação adequada e um reparo cuidadoso, é possível minimizar os riscos e proporcionar uma recuperação mais rápida, segura e confortável.


O conhecimento das técnicas de prevenção também é fundamental para ajudar a reduzir a incidência de lacerações graves, contribuindo para a saúde e o bem-estar das mulheres no pós-parto.

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