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Foto do escritorCarlos Felipe

Isoimunização Rh: fisiopatologia, diagnóstico e manejo clínico

Atualizado: 11 de dez.

A isoimunização Rh, também chamada de alossensibilização Rh ou simplesmente sensibilização Rh, é uma complicação imunológica que ocorre quando uma gestante Rh-negativa é exposta a hemácias fetais Rh-positivas.


Essa exposição leva à produção de anticorpos maternos contra o antígeno D, presentes nas hemácias fetais, podendo causar complicações graves, como anemia hemolítica fetal e doença hemolítica do recém-nascido (DHRN).


Neste artigo, discutiremos:

  • A fisiopatologia da isoimunização Rh.

  • Suas causas e fatores de risco.

  • O diagnóstico e o acompanhamento.

  • O manejo clínico e estratégias de prevenção.



O que é a Isoimunização Rh?


A isoimunização Rh ocorre quando a gestante Rh-negativa entra em contato com hemácias Rh-positivas (geralmente fetais) e desenvolve anticorpos anti-D.


Esses anticorpos podem atravessar a placenta e destruir as hemácias do feto em gestações subsequentes, resultando em anemia hemolítica fetal.



Fisiopatologia


  1. Exposição inicial:

    • Durante a gestação ou o parto, pequenas quantidades de sangue fetal podem entrar na circulação materna. Isso é chamado de hemorragia fetomaterna.


  2. Produção de anticorpos:

    • A mãe Rh-negativa reconhece o antígeno D das hemácias fetais Rh-positivas como um invasor, ativando o sistema imunológico e produzindo anticorpos IgG anti-D.

  3. Reexposição e resposta imunológica:

    • Em gestações subsequentes, os anticorpos maternos anti-D atravessam a placenta e destroem as hemácias fetais Rh-positivas, levando à anemia fetal.

  4. Complicações fetais:

    • A destruição das hemácias pode causar hidropisia fetal, insuficiência cardíaca e doença hemolítica grave do recém-nascido.


Causas e fatores de risco


1. Causas de exposição ao antígeno Rh

  • Gestação anterior com feto Rh-positivo: Principal causa de sensibilização.

  • Transfusões de sangue incompatíveis: Administração de sangue Rh-positivo a uma mulher Rh-negativa.

  • Eventos obstétricos: Como amniocentese, biópsia de vilosidades coriônicas, descolamento prematuro de placenta ou traumas abdominais.



2. Fatores de risco

  • Ausência de profilaxia Anti-D: Em mulheres Rh-negativas não imunizadas.

  • Multiparidade: O risco aumenta com cada gestação subsequente sem profilaxia.

  • Procedimentos invasivos: Como amniocentese e procedimentos cirúrgicos intraútero.


Imagem de tubo de ensaio com sangue.

Diagnóstico


O diagnóstico da isoimunização Rh envolve identificar a sensibilização materna, avaliar o risco fetal e monitorar o impacto da doença.


1. Triagem sorológica materna

  • Teste de Coombs indireto:


    • Detecta a presença de anticorpos anti-D no sangue materno.


    • Resultados:

      • Negativo: A paciente não está sensibilizada.

      • Positivo: Indica sensibilização.


    • Título crítico: Um título de anticorpos ≥ 1:16 é associado a risco de doença hemolítica fetal.



2. Avaliação fetal


A. Ultrassonografia obstétrica


  • Avaliação para sinais de hidropsia fetal:

    • Edema subcutâneo.

    • Derrame pleural ou pericárdico.

    • Ascite.



B. Doppler de Artéria Cerebral Média (ACM)


  • Detecta anemia fetal ao avaliar o aumento da velocidade do fluxo sanguíneo.

  • Valores aumentados (ver calculadora!) são indicativos de anemia moderada a grave.



C. Amniocentese


  • Avalia a bilirrubina no líquido amniótico (método de Liley).

  • Indicada em casos específicos onde o Doppler não é conclusivo.



D. Cordocentese


  • Realizada para confirmar a anemia fetal e medir o hematócrito e a bilirrubina fetal.



Complicações


1. Doença Hemolítica Fetal e Neonatal (DHRN)


  • Ocorre devido à destruição contínua das hemácias fetais pelos anticorpos maternos.

  • Manifestações:



2. Morte fetal intrauterina

  • Em casos graves de hidropsia ou anemia não tratada.



Manejo clínico


O manejo depende do estágio da gravidez, do grau de sensibilização e da presença de complicações fetais.


1. Gestante não sensibilizada


  • Profilaxia com Imunoglobulina Anti-D (IgG Anti-D):

    • Administrada em situações de risco de exposição ao sangue fetal:

      • Após 28 semanas de gestação (profilaxia rotineira).

      • Após eventos obstétricos de risco (ex.: sangramentos, amniocentese).

      • Dentro de 72 horas após o parto de um feto Rh-positivo.


    • Dose: Geralmente 300 µg intramuscular.



2. Gestante sensibilizada


A. Monitoramento


  • Avaliação seriada dos títulos de anticorpos anti-D.

  • Doppler da artéria cerebral média (ACM) para detectar anemia fetal.



B. Tratamento da anemia fetal


  • Transfusão Iintrauterina:

    • Indicada para fetos com anemia grave.

    • Realizada via cordocentese, com infusão de hemácias Rh-negativas compatíveis.


  • Interrupção da gestação:

    • Em casos de sofrimento fetal, a interrupção pode ser indicada após 34 semanas.



3. Cuidados neonatais


  • Exsanguineotransfusão:

    • Indicada para neonatos com anemia grave ou hiperbilirrubinemia.


  • Fototerapia:

    • Para tratar icterícia neonatal.


  • Imunoglobulina Intravenosa (IgIV):

    • Pode reduzir a hemólise em casos graves.



Prevenção


A prevenção é a chave para evitar a isoimunização Rh.


1. Triagem pré-natal


  • Determinação do tipo sanguíneo e fator Rh de todas as gestantes no início do pré-natal.

  • Realizar o teste de Coombs indireto em gestantes Rh-negativas.



2. Profilaxia com Anti-D


  • 28 Semanas de Gestação: Administração rotineira de imunoglobulina anti-D em mulheres Rh-negativas.

  • Pós-Parto: Administração após o parto de um feto Rh-positivo.


A isoimunização Rh é uma complicação gestacional evitável, mas com potencial de causar desfechos graves se não tratada. O uso rotineiro da imunoglobulina anti-D tem reduzido significativamente a incidência dessa condição.


Para médicos e estudantes, é essencial compreender a fisiopatologia, o diagnóstico e o manejo dessa condição para oferecer o melhor cuidado às gestantes e minimizar riscos ao feto.

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