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Foto do escritorCarlos Felipe

Infecção puerperal: compreendendo causas, sintomas, diagnóstico e tratamento

Atualizado: 11 de dez.

A infecção puerperal é uma complicação infecciosa que pode ocorrer após o parto e representa uma das principais causas de morbidade e mortalidade materna no período pós-parto, especialmente em contextos com menos acesso a cuidados obstétricos.


A infecção pode se manifestar no trato genital feminino e em outras áreas afetadas durante o processo de nascimento.


Este guia aborda desde a fisiopatologia até o manejo clínico, ajudando profissionais de saúde e estudantes de medicina a identificar, diagnosticar e tratar infecções puerperais com maior segurança.



1. O que é infecção puerperal?


A infecção puerperal refere-se a qualquer infecção do trato genital feminino que ocorre até 42 dias após o parto, incluindo cesáreas e abortos. De maneira geral, engloba condições como endometrite, sepse puerperal e infecções em locais de incisão, e é frequentemente associada a infecções bacterianas que invadem o útero e outras áreas afetadas pelo parto.



Definição clínica


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a infecção puerperal é definida como:


“Qualquer infecção bacteriana no trato genital feminino que ocorre após o parto, caracterizada por temperatura ≥38°C em duas ocasiões diferentes com pelo menos um intervalo de 24 horas, ocorrendo após as primeiras 24 horas do parto e até o 42º dia do puerpério”.

Essa definição é importante pois diferencia infecções puerperais de outras possíveis complicações febris no pós-parto, como infecções respiratórias ou urinárias.



2. Principais causas e fatores de risco


As infecções puerperais são frequentemente causadas pela invasão de microrganismos que podem ser de origem endógena (flora vaginal) ou exógena (adquirida por contaminação durante o parto).


Alguns dos agentes infecciosos mais comuns incluem:

  • Estreptococos do Grupo A e B: São frequentes em infecções pós-parto.

  • Escherichia coli: Associada a infecções urinárias e sepse.

  • Klebsiella pneumoniae e Enterobacter: Frequentemente isolados em infecções em cesarianas.

  • Anaeróbios: Como Clostridium perfringens, que podem causar gangrena gasosa uterina.


Mulher com as mãos na barrriga indicando uma cólica

Fatores de risco


Alguns fatores aumentam a probabilidade de infecção puerperal:

  • Cesárea: Principal fator de risco; o risco de infecção é 5 a 10 vezes maior do que em partos normais.

  • Prolongamento da duração do trabalho de parto: Exposição prolongada facilita a entrada de bactérias.

  • Ruptura prolongada das membranas: Aumenta a vulnerabilidade do útero a microrganismos.

  • Exames vaginais múltiplos durante o trabalho de parto.

  • Presença de comorbidades como diabetes, anemia e obesidade.

  • Nível socioeconômico baixo: Fatores como nutrição inadequada e difícil acesso a cuidados de saúde aumentam o risco.



3. Classificação das infecções puerperais


As infecções puerperais podem ser classificadas com base na localização anatômica da infecção:


3.1 Endometrite puerperal


É a forma mais comum de infecção puerperal, caracterizada pela infecção do endométrio, camada interna do útero, e normalmente ocorre após cesarianas. Manifesta-se como febre alta, dor abdominal, sensibilidade uterina e corrimento vaginal purulento.



3.2 Infecções de ferida cirúrgica


As infecções em locais de incisão são comuns após cesáreas e podem ocorrer em até 10% das mulheres submetidas à cirurgia, apresentando-se com edema, eritema, dor e drenagem purulenta.



3.3 Abscessos pélvicos e infecção de ligamentos


A infecção pode se espalhar para ligamentos uterinos e tecidos adjacentes, formando abscessos e causando sintomas como dor pélvica intensa, febre e sinais de peritonite.



3.4 Mastite


Embora não seja considerada uma infecção genital, a mastite é uma infecção comum do tecido mamário que pode ocorrer durante a amamentação.


É geralmente causada por Staphylococcus aureus e apresenta sintomas como dor, edema, eritema e febre.



4. Sinais e sintomas clínicos


Os sinais e sintomas da infecção puerperal podem variar conforme a área afetada e a gravidade da infecção.


Os principais incluem:

  • Febre ≥38°C, frequentemente o primeiro sinal.

  • Dor abdominal baixa e sensibilidade uterina.

  • Corrimento vaginal purulento ou fétido.

  • Mal-estar geral e calafrios.

  • Inchaço e sensibilidade em locais de incisão.

  • Taquicardia e hipotensão em casos graves.


É importante que esses sintomas sejam prontamente investigados para evitar a progressão para uma infecção sistêmica, que pode evoluir para uma sepse.



5. Diagnóstico da infecção puerperal


O diagnóstico da infecção puerperal é clínico, baseado em sintomas, mas pode ser complementado com exames laboratoriais e de imagem para avaliar a gravidade da infecção.



5.1 Exames laboratoriais


  • Hemograma completo: Geralmente revela leucocitose e elevação dos neutrófilos.

  • Hemoculturas e uroculturas: Importantes para identificar o agente infeccioso e guiar o tratamento.

  • Exame de cultura de secreção vaginal e de incisões cirúrgicas: Para detecção de bactérias causadoras.



5.2 Exames de Imagem


  • Ultrassonografia pélvica: Pode ser usada para avaliar presença de restos placentários, abscessos ou infecção em locais profundos.

  • Tomografia computadorizada (TC): Indicada em casos de suspeita de abscesso pélvico ou infecção disseminada.



6. Tratamento da infecção puerperal


O tratamento da infecção puerperal deve ser iniciado o mais cedo possível para evitar complicações graves.


Ele inclui:


6.1 Terapia com antibióticos


  • Antibioticoterapia de largo espectro: Normalmente administrada empiricamente até que os resultados das culturas estejam disponíveis. Penicilinas e cefalosporinas são frequentemente usadas.

  • Regimes específicos: Em infecções mais graves, combinações como clindamicina e gentamicina são comuns, pois cobrem anaeróbios e Gram-negativos. A combinação mais completa envolve Gentamicina (3-5mg/kg de 24/24h EV - Dose máxima 240mg/dia) + Clindamicina (600mg de 6/6h ou 900mg de 8/8h EV) + Ampicilina (2g de 6/6h EV). Para pacientes com insuficiência renal, deve-se substituir a Gentamicina por Ceftriaxona, na dosagem de 1 g EV de 12/12 horas ou 2 g EV de 24/24 horas.



6.2 Tratamento cirúrgico


Em casos de abscesso pélvico ou infecção incisional, pode ser necessária a drenagem cirúrgica ou a reabertura da ferida para desbridamento.



6.3 Suporte clínico


  • Reposição de líquidos e eletrólitos para prevenir desidratação.

  • Monitoramento dos sinais vitais e do quadro clínico para acompanhar a resposta ao tratamento.



6.4 Cuidados locais


  • Limpeza e desinfecção rigorosa das áreas infectadas.

  • Curativos frequentes em incisões cirúrgicas infectadas.



7. Prevenção da infecção puerperal


A prevenção da infecção puerperal envolve cuidados rigorosos antes, durante e após o parto.


As principais medidas preventivas incluem:


  • Profilaxia com antibióticos: Administração de antibióticos profiláticos, especialmente em cesáreas.

  • Higiene e esterilidade: Práticas estéreis durante o parto, especialmente em procedimentos vaginais e cesáreas.

  • Limitação de exames vaginais durante o trabalho de parto.

  • Orientação sobre cuidados pós-parto: Orientar a mãe sobre sinais de alerta e a importância de higiene adequada.



8. Complicações potenciais


As infecções puerperais, se não tratadas, podem levar a complicações graves:

  • Sepse puerperal: Infecção sistêmica com risco de choque séptico.

  • Abscesso pélvico: Pode exigir intervenção cirúrgica.

  • Infertilidade: Infecções graves e não tratadas podem danificar estruturas reprodutivas.

  • Síndrome de Sheehan: Necrose da hipófise secundária à hemorragia pós-parto.


A infecção puerperal é uma condição séria que exige atenção e manejo rápido para evitar complicações graves. O reconhecimento precoce, aliado a um tratamento eficaz, reduz significativamente a morbidade associada a essa condição.


Para médicos e estudantes, é fundamental compreender a complexidade dessas infecções e a importância de intervenções preventivas e terapêuticas para garantir a saúde da paciente no puerpério.

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