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Foto do escritorCarlos Felipe

Hipertensão Gestacional: manejo completo, diagnóstico e condutas para o pré-natal

Atualizado: 11 de nov.

A hipertensão gestacional, que afeta aproximadamente 5% a 10% das gestações, é uma condição de grande atenção nos cuidados pré-natais devido aos riscos significativos que apresenta tanto para a mãe quanto para o feto.


Este guia tem como objetivo detalhar o manejo da hipertensão gestacional, cobrindo desde a definição, diagnóstico, até o tratamento, critérios para antecipação do parto e cuidados pós-parto, e servir de referência detalhada para médicos e estudantes de medicina. É uma das causas dos chamados PNAR - Pré Natal de Alto Risco.



1. Definição e classificação da hipertensão na gestação


A hipertensão na gestação se divide em algumas categorias específicas, cada uma com características próprias e riscos variáveis para a mãe e para o feto. A classificação correta é essencial, pois influencia a conduta clínica e o acompanhamento da paciente.



Classificações da hipertensão na gestação

  1. Hipertensão Gestacional: Caracterizada pelo aumento da pressão arterial após a 20ª semana de gestação, sem sinais de proteinúria (excesso de proteína na urina) ou disfunção de órgãos. Este tipo de hipertensão geralmente regride após o parto, mas necessita de monitoramento constante para evitar que evolua para pré-eclâmpsia.


  2. Pré-eclâmpsia: É uma condição mais grave, na qual a hipertensão gestacional se associa a proteinúria significativa (mais de 300 mg em 24 horas) ou sinais de comprometimento de órgãos, como alteração nas funções hepática e renal, baixo número de plaquetas ou sintomas neurológicos. A pré-eclâmpsia pode ser classificada em leve ou grave, dependendo dos sintomas e dos exames laboratoriais.


  3. Eclâmpsia: Considerada uma emergência obstétrica, a eclâmpsia ocorre quando a paciente com pré-eclâmpsia desenvolve convulsões. Esse quadro é altamente perigoso e exige intervenção imediata para preservar a saúde da mãe e do feto.


  4. Hipertensão crônica: A hipertensão é considerada crônica quando diagnosticada antes da 20ª semana de gestação ou quando persiste após o puerpério (período pós-parto). Essas pacientes já tinham hipertensão antes de engravidar e, portanto, o acompanhamento é feito desde o início da gestação para evitar complicações.



2. Diagnóstico e critérios clínicos da hipertensão gestacional


O diagnóstico precoce da hipertensão gestacional é essencial para evitar que a condição evolua para pré-eclâmpsia ou eclâmpsia, sendo fundamentais a monitorização da pressão arterial e a avaliação laboratorial.



Critérios para diagnóstico de hipertensão gestacional

  • Pressão arterial elevada: PA igual ou superior a 140/90 mmHg, registrada em duas medições com intervalo de pelo menos 4 a 6 horas.


    Atenção importante à forma como é feita a aferição, que deve ser correta semiologicamente falando.


    • PA Sistólica ≥ 140 mmHg ou PA Diastólica ≥ 90 mmHg: Indicativo de hipertensão gestacional.

    • PA Sistólica ≥ 160 mmHg ou PA Diastólica ≥ 110 mmHg: Hipertensão grave, que requer avaliação mais intensiva.



  • Proteinúria: A presença de proteína na urina é um sinal de alerta para pré-eclâmpsia.


    • Teste de urina de 24 Horas: Proteinúria significativa acima de 300 mg indica possível progressão para pré-eclâmpsia.

    • Relação proteína/creatinina superior a 0,3 mg/dL em amostra única de urina também sugere proteinúria significativa.



Sintomas e sinais clínicos a serem observados

Os seguintes sintomas, além da pressão elevada, são sinais que podem indicar progressão para pré-eclâmpsia ou eclâmpsia:


  • Cefaleia intensa e persistente: Pode indicar comprometimento neurológico.

  • Distúrbios visuais: Como visão borrada, pontos luminosos ou sensibilidade à luz, que sugerem risco de eclâmpsia.

  • Epigastragia, dor abdominal, principalmente em quadrante superior direito: Relacionada a alterações hepáticas, como o hematoma hepático.

  • Edema súbito nas mãos e no rosto: Edema não é mais um critério isolado para o diagnóstico, mas inchaços significativos devem ser monitorados.



3. Monitoramento e exames complementares para avaliação materno-fetal


O monitoramento da pressão arterial e exames laboratoriais regulares são a base do manejo da hipertensão gestacional. A frequência dos exames e a avaliação do feto também são cruciais para detectar precocemente qualquer comprometimento.



Imagem de esfigmomanômetro.
Exames de monitoramento materno-fetal

  1. Aferições de pressão arterial:

    Devem ser realizadas em todas as consultas e, para pacientes com diagnóstico de hipertensão gestacional, são recomendadas medições adicionais em casa ou em ambiente hospitalar.


    • Monitoramento Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA): Pode ser utilizado para avaliar flutuações na pressão e planejar intervenções.


      Abaixo, segue o arquivo do MAPA - para controle da PA em domicílio e acompanhamento ambulatorial.




  1. Exames de sangue e urina (protocolo HELLP): Avaliam a função renal e hepática, além do estado de coagulação, que são afetados em casos de pré-eclâmpsia.


    • Função renal: Avaliação de ureia, creatinina e ácido úrico.

    • Função hepática: Níveis de TGO (AST), TGP (ALT) e bilirrubina.

    • Contagem de plaquetas: Plaquetopenia é comum na pré-eclâmpsia.


  2. Exames de ultrassom e doppler obstétrico: São utilizados para avaliar o crescimento e bem-estar fetal, especialmente em casos de pré-eclâmpsia.


    • Ultrassonografia: Monitora o crescimento fetal, essencial para identificar restrição de crescimento intrauterino (CIUR).


    • Doppler de artérias uterinas: Avalia a circulação sanguínea entre mãe e feto, indicando possíveis problemas no fluxo sanguíneo.



4. Tratamento e controle da hipertensão gestacional


O tratamento da hipertensão gestacional visa manter a pressão arterial sob controle para prevenir complicações para a mãe e o bebê. As estratégias incluem desde mudanças no estilo de vida até medicamentos específicos.



Medidas não farmacológicas

Para hipertensão leve, as recomendações não farmacológicas podem ser suficientes, especialmente no início da gestação:


  1. Dieta controlada: Redução do consumo de sódio (sal) e alimentos industrializados, além do incentivo ao consumo de frutas, verduras e alimentos naturais.

    • Dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension): Rica em potássio, cálcio e magnésio, é recomendada para pacientes hipertensas.


  2. Atividade física leve: Exercícios leves, como caminhadas, sob orientação médica, ajudam a melhorar a circulação e reduzir o estresse.


  3. Controle de peso: Ganho de peso adequado durante a gravidez reduz o risco de complicações hipertensivas.


  4. Repouso: Em casos de pressão arterial mais elevada, o repouso, principalmente em casa, pode ajudar a controlar a pressão.



Tratamento farmacológico

Para pacientes com pressão elevada que não é controlada por medidas não farmacológicas, é necessário o uso de medicamentos:


  1. Metildopa: Primeira escolha no tratamento da hipertensão na gestação por sua segurança e facilidade de implementação.

    • Dosagem: A dose inicial é de 250 mg de duas a três vezes ao dia (até de 6/6h, dose diária máxima de 3000mg), ajustada conforme a resposta da paciente.


  2. Labetalol: Utilizado especialmente em casos de resistência ao tratamento com metildopa (dose diária máxima de 2.400 mg).


  3. Nifedipina: Bloqueador de canal de cálcio, útil para casos em que a pressão precisa ser reduzida rapidamente.


A escolha do medicamento depende do perfil clínico da paciente e de sua resposta ao tratamento. É essencial ajustar as doses conforme a progressão da gestação e monitorar os efeitos colaterais.



Esquema de doses e ajustes

A dose diária é frequentemente ajustada com base nos valores pressóricos medidos durante a gestação e nas condições individuais da paciente.


Em casos de aumento progressivo da pressão, são feitos incrementos nas dosagens, com acompanhamento de perto para evitar hipotensão e outros efeitos adversos.



5. Critérios para antecipação do parto em hipertensão gestacional


Nos casos de hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia, a antecipação do parto é uma estratégia que pode ser necessária para garantir a segurança da mãe e do bebê.


A decisão de induzir o parto é baseada em uma avaliação rigorosa de fatores como a gravidade da pressão arterial, o comprometimento materno e fetal, e a idade gestacional.



Critérios para antecipação baseados na idade gestacional e gravidade

  1. Hipertensão arterial crônica ou pré eclâmpsia controlada com medicação e sem complicações:

    • Para pacientes com hipertensão arterial crônica ou pré eclâmpsia controlada, o objetivo é manter a gravidez até as 39 semanas e 6 dias, momento ideal para o nascimento sem riscos aumentados para o bebê.


    • Nestes casos, o monitoramento deve ser intensivo, com aferições de pressão arterial frequentes e avaliações de bem-estar fetal, como ultrassonografia e exames de Doppler das artérias uterinas.


  2. Hipertensão gestacional / Pré-eclâmpsia descompensada:

    • Se a paciente apresenta hipertensão gestacional ou pré-eclâmpsia descompensada, a data limite para o parto é de 37 semanas e 6 dias.


    • A decisão também considera o risco de progressão para eclâmpsia, especialmente se houver proteinúria crescente, alterações hepáticas ou renais leves e discreto aumento na pressão.

  3. Pré-eclâmpsia grave:

    • Em situações de pré-eclâmpsia grave, que é caracterizada por uma pressão arterial ≥160/110 mmHg, insuficiência renal, plaquetopenia ou sintomas neurológicos, a antecipação do parto geralmente pode ocorrer a partir de 34 semanas, considerando os riscos elevados de complicações.

    • Em casos mais graves, como o desenvolvimento de síndrome HELLP (hemólise, elevação de enzimas hepáticas e plaquetopenia), a interrupção da gestação pode ser necessária independentemente da idade gestacional para proteger a vida da mãe e do bebê.

  4. Eclâmpsia e síndrome HELLP:

    • A ocorrência de eclâmpsia e suas complicações ou o diagnóstico de HELLP exige intervenção obstétrica imediata, independentemente da idade gestacional, pois são condições de alto risco que requerem tratamento de emergência.

    • Em muitos casos, a cesariana é indicada para garantir um parto rápido e seguro.



6. Monitoramento pós-parto e cuidados no puerpério


Após o parto, o controle da pressão arterial deve continuar, pois algumas pacientes podem manter níveis elevados de pressão por várias semanas ou desenvolver hipertensão crônica.


O acompanhamento pós-parto é crucial para a detecção precoce de complicações e para orientar a paciente quanto ao seu risco de desenvolver hipertensão crônica no futuro.



Monitoramento e avaliação pós-parto

  1. Aferições de pressão arterial: Nas primeiras 48 a 72 horas após o parto e novamente entre o 7º e o 10º dia, ou sempre que houver sintomas.


  2. Avaliação do risco de hipertensão crônica: Mulheres que tiveram hipertensão gestacional possuem risco aumentado para hipertensão crônica, e devem realizar exames regulares.


  3. Educação para autocuidado: Instruir as pacientes sobre a importância da monitorização de sua pressão arterial e sobre sinais de alerta, como dor de cabeça intensa, alterações visuais ou inchaços, que indicam a necessidade de atenção médica imediata.



Recomendações para a saúde a longo prazo

  • Mudanças no estilo de vida: A hipertensão gestacional está associada a um risco aumentado de doença cardiovascular, por isso é fundamental adotar uma dieta equilibrada, praticar atividades físicas regulares e evitar o tabagismo.


  • Acompanhamento cardiovascular regular: A pressão arterial e o perfil lipídico devem ser monitorados periodicamente, e a paciente deve ser incentivada a fazer acompanhamento médico regular, especialmente em idades mais avançadas.

Mapa para controle pressórico a domicílio.
Mapa para controle pressórico a domicílio.





Plano de monitoramento em domicílio:


Fizemos este documento em pdf para te auxiliar no controle e acompanhamento das aferições de pressão arterial em seus pacientes.


Clique abaixo para baixar.



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