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Foto do escritorCarlos Felipe

Hemorragia pós-parto: causas, sintomas, diagnóstico e tratamento

A hemorragia pós-parto (HPP) 


É uma das principais causas de morbimortalidade materna no mundo, representando um desafio significativo para os profissionais de saúde envolvidos no atendimento obstétrico.


Definida como uma perda sanguínea superior a 500 ml após um parto vaginal ou mais de 1000 ml após uma cesariana, a HPP pode ter diversas causas, sendo fundamental um diagnóstico rápido e um tratamento eficaz para reduzir riscos à mãe.


Para facilitar a compreensão das causas e o manejo dessa condição, as causas da HPP são frequentemente divididas em 4 categorias conhecidas como os 4 T's:


  1. Tônus (Atonia Uterina)


  2. Trauma


  3. Tecido (Retenção de Partes Fetais ou Placentares)


  4. Trombofilias (Distúrbios de Coagulação)



Vamos explorar cada uma dessas categorias em detalhe, abordando como cada uma contribui para a HPP, fatores de risco associados e as abordagens clínicas recomendadas para cada causa.



1. Tônus: Atonia Uterina


A atonia uterina é a causa mais comum de hemorragia pós-parto, responsável por cerca de 70% dos casos. Nesta condição, o útero falha em contrair-se adequadamente após o parto, o que impede a compressão dos vasos sanguíneos que irrigavam a placenta, levando à perda significativa de sangue.



Causas e fatores de risco para atonia uterina


A atonia uterina pode ocorrer por diversos fatores que impedem o útero de se contrair eficientemente.


Os principais fatores de risco incluem:


  • Distensão uterina: Gravidezes múltiplas (gêmeos ou trigêmeos), polidrâmnio e macrossomia fetal.

  • Parto prolongado ou rápido: Tanto o trabalho de parto muito longo quanto o parto precipitado podem levar a fadiga do músculo uterino.

  • Anestesia geral: O uso de anestesia pode afetar o tônus muscular uterino, especialmente se a paciente recebeu anestesia geral.

  • Uso prolongado de ocitocina: O uso prolongado de ocitocina pode levar à “fadiga” do útero, dificultando sua capacidade de contrair após o parto.



Manejo clínico da atonia uterina


Para tratar a atonia uterina, são utilizadas as seguintes medidas:


  1. Massagem uterina bimanual: método que visa estimular a contração uterina manualmente.

  2. Administração de ocitócicos: ocitocina intravenosa é frequentemente administrada para estimular as contrações uterinas. Em alguns serviços de saúde, a administração de duas ampolas em todas as gestantes pós parto é comum. Outros medicamentos incluem misoprostol e derivados da ergometrina.

  3. Compressão uterina e intervenções cirúrgicas: em casos mais graves, pode ser necessária a realização de uma compressão manual do útero ou, em situações de emergência, um procedimento cirúrgico como a embolização da artéria uterina ou, em último caso, a histerectomia.


2. Trauma: lacerações e lesões do trato genitourinário ou ânus


O segundo "T" refere-se ao trauma, ou seja, lesões que ocorrem no trato genital durante o parto, como lacerações do colo do útero, vagina, períneo e até mesmo a ruptura uterina.



Tipos de trauma e fatores de risco


O trauma pode ocorrer em diferentes áreas do trato reprodutivo:


  • Lacerações do períneo, vagina e colo uterino: mais comuns em partos instrumentais, como o uso de fórceps ou vácuo extrator, em partos vaginais precipitados e em fetos GIG.


  • Ruptura uterina: Embora rara, pode ocorrer em mulheres que tentam um parto vaginal após uma cesariana anterior (VBAC), ou em caso de obstrução fetal.


  • Hematomas vaginais ou vulvares: Podem se desenvolver devido ao rompimento de vasos sanguíneos durante o parto.



Manejo clínico do trauma


O tratamento do trauma genital depende do tipo e da extensão da lesão:

  1. Identificação e reparo das lacerações: lacerações do períneo, vagina e colo do útero devem ser identificadas e reparadas imediatamente com suturas.

  2. Controle de hematomas: pequenos hematomas podem ser observados, mas hematomas maiores podem exigir drenagem e reparo cirúrgico.

  3. Abordagem cirúrgica em caso de ruptura uterina: a ruptura uterina é uma emergência e geralmente requer reparo cirúrgico imediato ou, em casos extremos, histerectomia.



3. Tecido: retenção de partes fetais ou placentares


A retenção de partes fetais ou da placenta é uma causa significativa de HPP. Quando partes da placenta, membranas fetais ou coágulos permanecem no útero, elas impedem que o útero se contraia adequadamente, resultando em hemorragia.



Causas e fatores de risco para retenção de tecido


A retenção de tecidos pode ocorrer em diversas situações, incluindo:


  • Acretismo placentário: condição em que a placenta adere de forma anômala ao útero, dificultando a sua separação completa após o parto.


  • Separação parcial da placenta: ocorre quando apenas uma parte da placenta se descola, deixando fragmentos no útero.


  • Parto prematuro ou prolongado: em partos prematuros, a placenta pode não estar totalmente desenvolvida, aumentando o risco de retenção.



Manejo clínico da retenção tecidual


O tratamento da retenção de tecido envolve:

  1. Exame manual do útero: utilizado para avaliar a presença de fragmentos placentários remanescentes.

  2. Curetagem uterina: procedimento para remover os fragmentos retidos, especialmente quando há sangramento persistente.

  3. Administração de ocitocina e antibióticos: o uso de ocitocina é importante para ajudar o útero a contrair após a remoção dos tecidos. Os antibióticos podem ser administrados profilaticamente para prevenir infecções.


Bolsa de sangue tipo O RH negativo para representar hemotransfusão.

4. Trombofilias: distúrbios de coagulação


O último "T" refere-se a trombofilias, ou seja, distúrbios de coagulação que interferem na capacidade do corpo de formar coágulos sanguíneos e controlar o sangramento. Esses distúrbios podem ser preexistentes ou surgir como uma complicação do parto.



Tipos de distúrbios de coagulação e fatores de risco


Os distúrbios de coagulação que podem levar a uma HPP incluem:

  • Coagulopatias preexistentes: como a doença de von Willebrand, hemofilia e trombocitopenia.

  • Coagulopatias adquiridas: como a coagulação intravascular disseminada (CIVD), que pode ocorrer em situações de complicações graves, como descolamento prematuro de placenta e embolia de líquido amniótico.

  • Uso de anticoagulantes: mulheres em uso de anticoagulantes por condições médicas anteriores também apresentam maior risco de HPP.

Manejo clínico dos distúrbios de coagulação


O tratamento de HPP devido a problemas de coagulação varia conforme a causa:

  1. Transfusão de hemoderivados: a transfusão de plaquetas, plasma fresco congelado e fatores de coagulação pode ser necessária para restaurar a capacidade de coagulação.

  2. Reposição de fatores de coagulação específicos: em casos de doença de von Willebrand, por exemplo, pode ser necessária a reposição do fator específico.

  3. Tratamento de condições subjacentes: em caso de CIVD, o manejo da condição desencadeante é essencial para controlar o sangramento.



Abordagem e protocolo para o tratamento da hemorragia pós-parto


O tratamento da hemorragia pós-parto exige uma abordagem rápida e sistemática, com a aplicação de protocolos específicos para reduzir o risco de complicações graves.


O protocolo pode ser resumido da seguinte forma:

  1. Identificação rápida e avaliação da causa: realizar uma avaliação inicial focada nos 4 T’s (tônus, trauma, tecido e trombina) para identificar rapidamente a causa subjacente.

  2. Tratamento inicial com ocitocina: administrar ocitocina para estimular a contração uterina, especialmente em casos de atonia.

  3. Reposição volêmica e transfusão: se houver perda significativa de sangue, iniciar a reposição com cristaloides e considerar a transfusão de hemoderivados.

  4. Intervenção cirúrgica quando necessário: em casos de hemorragia persistente, considerar a embolização da artéria uterina ou até mesmo a histerectomia.



A hemorragia pós-parto é uma emergência obstétrica séria, e a compreensão dos 4 T’s — tônus, trauma, tecido e trombina — é fundamental para um manejo eficaz.


Cada uma dessas causas exige uma abordagem de tratamento específica e, em muitos casos, medidas rápidas e multidisciplinares.


Com o diagnóstico e tratamento adequados, é possível reduzir significativamente os riscos e as complicações da hemorragia pós-parto, protegendo a saúde e a vida da paciente.

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