A distócia de ombro é uma complicação obstétrica complexa que ocorre durante o parto vaginal, quando o ombro do bebê fica preso atrás do púbis materno após o nascimento da cabeça, impedindo a progressão do parto.
Essa condição é frequentemente observado em bebês de mães com diabetes gestacional (DMG) devido a fatores de risco que incluem o alto peso ao nascer e a deposição excessiva de gordura nos ombros do bebê.
O entendimento desses fatores e as estratégias para minimizar os riscos podem auxiliar os profissionais de saúde a manejar essa situação de forma segura e eficiente.
1. Fisiopatologia da distócia de ombro
1.1 O papel do diabetes gestacional (DMG) no peso e distribuição de gordura
O diabetes gestacional (DMG) é um distúrbio caracterizado pelo aumento dos níveis de glicose no sangue da mãe durante a gravidez.
Como consequência, ocorre uma passagem aumentada de glicose para o feto, estimulando a produção de insulina fetal, o que promove um crescimento fetal acelerado e distribuição excessiva de gordura, especialmente na região dos ombros e tronco.
Essa deposição de gordura nos ombros resulta em uma desproporção fetopélvica e aumenta o risco de distócia de ombro durante o parto vaginal.
1.2 Fatores de risco adicionais
Bebês de mães com DMG estão particularmente predispostos a macrossomia (peso ao nascer acima de 4.000g) e a um risco aumentado de distócia de ombro em pesos ainda mais elevados.
O limite de 4.500g é um marcador importante, sendo que a distócia de ombro ocorre em aproximadamente:
9-14% dos bebês pesando entre 4.000g e 4.500g
Acima de 20% dos bebês pesando mais de 4.500g
Esses dados sugerem que o acompanhamento rigoroso do peso fetal é uma medida preventiva importante para reduzir as complicações no parto.
2. Aspectos clínicos da distócia de ombro
2.1 Diagnóstico
A distócia de ombro é diagnosticada no momento do parto, geralmente após a manobra da cabeça flutuante ou "sinal da tartaruga", onde a cabeça do bebê se retrai contra o períneo após a tentativa de expulsão. Esse sinal reflete o aprisionamento do ombro anterior atrás do púbis.
2.2 Manifestações clínicas
Os profissionais de saúde devem estar atentos a sinais clínicos durante o parto, como:
Retração da cabeça fetal contra o períneo após o parto da cabeça.
Resistência à descida do bebê durante o parto vaginal.
3. Estratégias de manejo da distócia de ombro
Quando ocorre a distócia de ombro, o tempo é crítico para reduzir o risco de lesões para o bebê e a mãe.
As principais manobras utilizadas incluem:
3.1 Manobra de McRoberts
A manobra de McRoberts é uma das técnicas mais comuns, que envolve a flexão das coxas maternas contra o abdome. Essa ação ajuda a ampliar o diâmetro da pelve e pode facilitar a liberação do ombro fetal.
3.2 Manobra de Rubin e manobra de Woods
Essas manobras envolvem a rotação do ombro fetal de maneira controlada para facilitar o desengajamento do ombro anterior da sínfise púbica.
São técnicas que exigem precisão e experiência do obstetra para evitar lesões ao bebê.
3.3 Episiotomia e extração de emergência
Em casos de extrema dificuldade, uma episiotomia pode ser realizada para aumentar o espaço pélvico.
Em situações onde as manobras convencionais falham, pode ser necessário recorrer a uma cesárea de emergência para assegurar a segurança materno-fetal.
4. Complicações associadas
A distócia de ombro está associada a uma série de complicações, incluindo:
Fratura de clavícula ou úmero do bebê.
Paralisia de Erb devido à lesão do plexo braquial, o que pode causar dificuldades motoras no membro superior.
Hemorragia materna e lacerações perineais graves.
Essas complicações reforçam a necessidade de um manejo adequado e de uma avaliação criteriosa dos fatores de risco para distócia de ombro em bebês de mães com DMG.
5. Prevenção e planejamento obstétrico
5.1 Monitoramento do peso fetal
O acompanhamento rigoroso do crescimento fetal por meio de ultrassonografia é fundamental.
Em casos de DMG onde o peso estimado do bebê ultrapassa 4.000-4.500g, o obstetra pode considerar uma cesárea eletiva para evitar os riscos da distócia de ombro.
5.2 Controle glicêmico materno
O controle adequado dos níveis de glicose na mãe durante a gravidez é essencial para minimizar os riscos de macrossomia e reduzir o risco de complicações no parto.
A distócia de ombro é uma complicação obstétrica desafiadora, especialmente em bebês de mães com DMG.
A identificação dos fatores de risco, como o peso elevado ao nascer e a distribuição aumentada de gordura nos ombros, deve guiar a tomada de decisão e o planejamento do parto de forma efetiva.
Estratégias como controle glicêmico rigoroso, monitoramento do peso fetal e a consideração da via de parto podem ajudar a reduzir os riscos e melhorar os desfechos obstétricos.