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Foto do escritorCarlos Felipe

CIUR (Crescimento intrauterino restrito): definição, abordagem e seguimento

Atualizado: há 7 dias

O Crescimento Intrauterino Restrito (CIUR) é um termo médico que descreve a condição em que o feto não cresce de acordo com o potencial esperado para a sua idade gestacional.


Em situações de CIUR, o peso do feto fica abaixo do percentil 10 para a idade gestacional, e essa limitação pode resultar em consequências significativas, tanto no período neonatal quanto na vida adulta.


1. O que é o CIUR?


O CIUR ocorre quando um feto apresenta crescimento inadequado dentro do útero, ficando menor do que o esperado para a sua idade gestacional. A limitação do crescimento fetal pode ser causada por inúmeros fatores, incluindo condições maternas, placentárias ou fetais, que comprometem a nutrição e oxigenação adequadas.



2. Classificação


A classificação do CIUR é feita principalmente com base no padrão de crescimento e nos parâmetros ultrassonográficos.


Vamos explorar as duas principais categorias:



a. CIUR simétrico


O CIUR simétrico ocorre de maneira homogênea, onde o feto apresenta proporcionalmente redução no crescimento de todos os órgãos e partes do corpo.


Esse padrão, geralmente, é consequência de insultos que ocorrem precocemente na gestação, como:

  • Infecções congênitas (ex.: toxoplasmose, rubéola)

  • Anomalias cromossômicas (ex.: trissomia 18)

  • Exposição a substâncias teratogênicas



b. CIUR assimétrico


No CIUR assimétrico, o crescimento da cabeça é preservado, enquanto o abdome e outros segmentos do corpo apresentam uma restrição mais evidente.


Esse padrão geralmente surge no segundo ou terceiro trimestre e costuma estar associado a insuficiência placentária.


As causas mais comuns incluem:



3. Fisiopatologia


A fisiopatologia do CIUR envolve principalmente a insuficiência placentária. A placenta desempenha um papel crucial na troca de oxigênio e nutrientes entre a mãe e o feto.


Quando essa função é comprometida, o feto não recebe nutrientes e oxigênio suficientes, resultando em um crescimento limitado.



a. Vasculatura placentária alterada


Em casos de insuficiência placentária, as artérias espiraladas do útero da mãe apresentam resistência aumentada, dificultando o fluxo sanguíneo adequado para a placenta. Isso leva a uma baixa perfusão placentária e, consequentemente, a um fornecimento deficiente de nutrientes e oxigênio ao feto.



b. Redistribuição fetal de fluxo sanguíneo


Como resposta compensatória, o feto direciona o fluxo sanguíneo para órgãos vitais, como o cérebro, coração e glândulas suprarrenais. Esse fenômeno é conhecido como centralização fetal e pode ser observado com Doppler da artéria cerebral média, um exame que frequentemente indica alterações hemodinâmicas em fetos com CIUR.



c. Hipóxia fetal crônica


A redução de oxigênio associada à CIUR leva a uma condição de hipóxia fetal crônica. Como resposta, o feto reduz sua taxa metabólica e diminui o crescimento dos tecidos menos essenciais para preservar as funções vitais.



4. Causas do CIUR


O CIUR pode ter uma variedade de causas.


Elas são classificadas em três grandes categorias:


  • Causas maternas: Doenças maternas, hábitos e condições sociais podem afetar o desenvolvimento do feto. Exemplos incluem hipertensão, tabagismo, alcoolismo, doenças renais, anemia e desnutrição.

  • Causas fetais: Incluem infecções intrauterinas (ex.: citomegalovírus), anomalias congênitas, síndromes genéticas e defeitos estruturais.

  • Causas placentárias: A insuficiência placentária, que pode ocorrer devido a pré-eclâmpsia, descolamento de placenta ou anormalidades na implantação, é uma das causas mais comuns de CIUR.



5. Diagnóstico


O diagnóstico do CIUR baseia-se na combinação de dados clínicos, ultrassonografia e exames Doppler.



a. Avaliação clínica


A história materna é crucial, identificando fatores de risco, como hipertensão ou tabagismo. Durante o pré-natal, o médico também avalia a altura uterina, que, quando inadequada para a idade gestacional, pode indicar um CIUR.



b. Ultrassonografia obstétrica


A ultrassonografia é o exame padrão para monitorar o crescimento fetal e detectar o CIUR. Parâmetros comuns incluem:

  • Peso fetal estimado: Abaixo do percentil 10 indica risco para CIUR.

  • Medidas biométricas: Como o diâmetro biparietal (DBP), a circunferência abdominal (CA) e o comprimento do fêmur (CF).


Tabela com valores de referência para PFE.

Fonte da imagem: Curva dos valores normais de peso fetal estimado por ultra-sonografia segundo a idade gestacional.

Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/M8B7pQSHvjzfCMJGLNNSJtB. Acesso em 04 de novembro de 2024

c. Doppler da artéria umbilical e cerebral média


O Doppler é utilizado para avaliar a resistência das artérias umbilical e cerebral média. Alterações nesses vasos indicam insuficiência placentária e centralização fetal.



6. Implicações do CIUR


O CIUR está associado a várias complicações, tanto para o recém-nascido quanto a longo prazo.

  • Prematuridade: Muitas vezes, é necessário antecipar o parto para proteger o feto de complicações mais graves.

  • Complicações neonatais: Os fetos com CIUR apresentam maior risco de hipóxia, acidose, hipoglicemia e enterocolite necrosante.

  • Doenças a longo prazo: Estudos mostram que indivíduos que nasceram com CIUR têm maior risco de desenvolver doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e doença coronariana na vida adulta.



7. Manejo do CIUR


O manejo do CIUR depende da gravidade e do estágio da gestação.


a. Monitoramento regular


O acompanhamento de fetos com CIUR inclui ultrassonografias frequentes para monitorar o crescimento, avaliações do perfil biofísico fetal e Doppler para verificar a resistência vascular.


Imagem de ultrassonografia obstétrica.

b. Indução do parto


Em casos de CIUR grave, onde o bem-estar fetal está em risco, a indução do parto é recomendada. O momento ideal para o parto depende de várias considerações clínicas, incluindo a condição da mãe e os achados de exames fetais.



c. Terapia com corticoesteroides


Se o parto for iminente antes das 34 semanas de gestação, a administração de corticoides pode ser indicada para acelerar a maturação pulmonar fetal e reduzir o risco de complicações respiratórias.



d. Suporte neonatal


Após o nascimento, o recém-nascido com CIUR requer monitoramento rigoroso devido ao risco de complicações, como dificuldades respiratórias, hipoglicemia e enterocolite necrosante.



8. Prevenção e prognóstico


A prevenção do CIUR envolve o manejo adequado dos fatores de risco maternos, como hipertensão e doenças crônicas, além de incentivar hábitos saudáveis e o acompanhamento pré-natal regular.


O prognóstico do CIUR varia conforme a causa e a gravidade. Quando diagnosticado e tratado adequadamente, muitos bebês apresentam desenvolvimento normal, mas é importante destacar que o CIUR aumenta os riscos de complicações neonatais e, em alguns casos, de problemas de saúde na vida adulta.


Um fator interessante, por exemplo, é o fato de que crianças nascidas pequenas para a idade gestacional (PIG), como ocorre em casos de CIUR, apresentam um risco aumentado de desenvolver síndrome metabólica e diabetes tipo 2 (DM2) na vida adulta.


Isso ocorre porque a desnutrição intrauterina pode causar alterações metabólicas no feto, programando permanentemente mecanismos que favorecem a resistência à insulina.


Essas adaptações, conhecidas como fenótipo econômico, garantem maior disponibilidade de nutrientes no curto prazo, mas têm efeitos negativos a longo prazo.


Além disso, o risco de DM2 também está aumentado em crianças nascidas de gestações complicadas por diabetes mellitus gestacional (DMG).


A CIUR é um tema de extrema relevância para médicos de forma geral, como também para obstetras e neonatologistas, pois envolve o acompanhamento e o manejo de casos que podem impactar diretamente a qualidade de vida do feto e do recém-nascido.


Com uma abordagem focada na identificação precoce e em uma conduta médica cuidadosa, é possível minimizar riscos e proporcionar melhores desfechos para esses bebês.

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Fotos disponibilizadas por IA, Pexels ou Unsplash.

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