O citomegalovírus (CMV) é um vírus da família Herpesviridae que causa uma infecção amplamente disseminada na população mundial.
Embora assintomática em pessoas saudáveis, a infecção por CMV pode ter consequências graves em indivíduos imunossuprimidos e em fetos, sendo uma das principais causas de infecções congênitas.
Neste post, discutiremos:
O que é o citomegalovírus.
Suas formas de transmissão e populações de risco.
O diagnóstico da infecção, incluindo infecção congênita.
As principais complicações associadas.
O manejo clínico e a prevenção.
O que é o Citomegalovírus?
O citomegalovírus é um vírus de DNA da mesma família do herpes simples e da varicela-zoster.
Após a infecção primária, o CMV permanece latente no organismo, podendo ser reativado em situações de imunossupressão.
Principais características
Latência viral: Permanece latente em leucócitos e tecidos.
Capacidade de reativação: Pode ser reativado em casos de imunidade comprometida, como ocorre em pacientes transplantados ou com infecção pelo vírus do HIV.
Transmissão
O CMV é transmitido por fluidos corporais, como saliva, sangue, urina, leite materno, secreções genitais e transplantes de órgãos ou transfusões sanguíneas.
Principais vias de transmissão
Contato direto: Exposição a secreções corporais infectadas.
Transmissão vertical: Durante a gestação (infecção congênita), parto ou aleitamento materno.
Transfusão de sangue e transplantes: Principalmente em pacientes imunocomprometidos.
Epidemiologia
Alta prevalência: A soroprevalência do CMV varia entre 40-100%, sendo mais elevada em países em desenvolvimento / subdesenvolvidos.
Infecção congênita: A principal causa de infecção congênita no mundo, com risco de morbidade neurológica e surdez.
Manifestações clínicas
1. Indivíduos imunocompetentes
A infecção primária por CMV geralmente é assintomática ou causa sintomas inespecíficos, como:
Febre prolongada.
Linfadenopatia.
Cansaço e mal-estar.
Em raros casos, pode causar uma síndrome similar à mononucleose, com sintomas semelhantes à infecção por Epstein-Barr.
2. Infecção congênita
O CMV é a principal causa de infecção congênita, ocorrendo em cerca de 0,2-2,0% dos nascimentos.
Infecção primária materna: Maior risco de transmissão ao feto (30-40%).
Infecção recorrente materna: Risco menor de transmissão (< 2%), mas ainda pode causar complicações.
Manifestações no feto e neonatal
Sintomas neurológicos: Microcefalia, calcificações intracranianas, retardo mental, convulsões.
Surdez sensorioneural: A complicação mais comum, ocorrendo em 10-15% dos casos.
Hepatoesplenomegalia e icterícia: Resultantes de infecção sistêmica.
Restrição de crescimento intrauterino (CIUR): Associada a insuficiência placentária.
3. Pacientes imunossuprimidos
Em indivíduos imunossuprimidos, como transplantados ou portadores de HIV/AIDS, o CMV pode causar complicações graves:
Retinite por CMV: Causa importante de cegueira.
Pneumonite por CMV: Alta morbimortalidade em transplantados.
Doença gastrointestinal: Esofagite, colite e ulcerações intestinais.
Diagnóstico
O diagnóstico da infecção por CMV pode ser feito por testes sorológicos, moleculares ou histopatológicos, dependendo do contexto clínico.
1. Diagnóstico sorológico
IgM Anti-CMV: Indica infecção recente.
IgG Anti-CMV: Indica exposição prévia ou imunidade.
Avidez de IgG: Avalia a "maturidade" dos anticorpos IgG, útil para diferenciar infecção recente (baixa avidez) de infecção antiga.
2. Diagnóstico molecular
PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) para CMV (Carga viral): Detecta DNA viral em sangue, líquido amniótico ou outros fluidos corporais. Essencial para infecção congênita e monitoramento de imunossuprimidos.
3. Diagnóstico histopatológico
Inclusões citomegálicas: Características em biópsias de tecidos infectados, como pulmões e intestinos.
Manejo clínico
O tratamento do CMV depende do contexto clínico (congênito, imunossuprimido ou imunocompetente).
1. Indivíduos imunocompetentes
Geralmente, o tratamento é sintomático, pois a infecção é autolimitada.
2. Infecção congênita
Ganciclovir ou Valganciclovir: Antivirais utilizados para reduzir o risco de sequelas neurológicas e auditivas, especialmente em casos graves.
Tratamento precoce nos primeiros 30 dias de vida é essencial.
3. Pacientes imunossuprimidos
Profilaxia antiviral: Utiliza-se Valganciclovir para prevenir infecção em transplantados de órgãos sólidos e medula óssea.
Tratamento da doença ativa: Inclui Ganciclovir intravenoso ou Valganciclovir oral.
Monitorar a carga viral por PCR durante o tratamento.
Prevenção
1. Medidas gerais
Higiene adequada, incluindo lavagem frequente das mãos, especialmente em profissionais de saúde e cuidadores de crianças pequenas.
2. Prevenção em transplantes
Triagem de doadores e receptores: Avaliar o status sorológico pré-transplante.
Uso de hemoderivados soronegativos ou leucorreduzidos: Reduz o risco de transmissão em imunossuprimidos.
3. Prevenção da infecção congênita
Triagem sorológica materna: Identificar mulheres suscetíveis ao CMV durante o pré-natal.
Acompanhamento com ultrassonografia e amniocentese: Detectar sinais de infecção fetal, como calcificações intracranianas e restrição de crescimento.
O citomegalovírus (CMV) é uma infecção comum, mas que pode ter consequências graves em imunossuprimidos e fetos.
O diagnóstico precoce e o manejo adequado são essenciais para reduzir complicações, especialmente em infecções congênitas e doenças em transplantados.
A conscientização sobre prevenção e a utilização de antivirais em situações específicas têm papel fundamental no controle da infecção por CMV, garantindo melhores desfechos para pacientes de alto risco.