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Foto do escritorCarlos Felipe

Acretismo placentário: diagnóstico, classificação e manejo

O acretismo placentário é uma complicação obstétrica grave, caracterizada pela adesão anormal da placenta à parede do útero, dificultando ou impossibilitando sua separação no momento do parto.


Essa condição pode resultar em hemorragia grave durante a remoção da placenta, colocando em risco a vida da paciente.


O acretismo placentário inclui diferentes graus de invasão da placenta, e cada um requer um manejo específico para garantir segurança materna e reduzir o risco de complicações.



O que é acretismo placentário?


O acretismo placentário ocorre quando a placenta se implanta profundamente no útero e invade parcial ou totalmente o miométrio, a camada muscular uterina.


Essa invasão anormal impede que a placenta se desprenda naturalmente após o nascimento, tornando necessária a intervenção cirúrgica.


O acretismo pode ser classificado de acordo com a profundidade da invasão placentária.



Classificação do acretismo placentário


O acretismo é classificado em três categorias principais:

  1. Placenta acreta: a forma menos invasiva, na qual as vilosidades placentárias se aderem firmemente ao miométrio, mas sem invadi-lo profundamente. A placenta está aderida à camada superficial do miométrio.

  2. Placenta increta: a placenta penetra e invade o miométrio, a camada muscular uterina, mas não ultrapassa essa camada.

  3. Placenta percreta: a forma mais grave, na qual a placenta atravessa todo o miométrio e pode invadir estruturas adjacentes, como a bexiga ou outros órgãos pélvicos.



Fatores de risco para acretismo placentário


Vários fatores aumentam o risco de acretismo placentário, com destaque para os antecedentes obstétricos da paciente.


Alguns dos fatores de risco mais importantes incluem:

  1. Histórico de cesarianas anteriores: o número de cesarianas anteriores é diretamente proporcional ao risco de acretismo, especialmente quando a placenta se insere sobre a cicatriz uterina.

  2. Placenta prévia: a inserção da placenta sobre ou próxima ao colo do útero está frequentemente associada ao acretismo, principalmente em mulheres com histórico de cirurgias uterinas.

  3. Cirurgias uterinas anteriores: procedimentos como miomectomia e curetagem uterina podem aumentar o risco devido às cicatrizes e alterações na estrutura do útero.

  4. Idade materna avançada: mulheres com idade acima de 35 anos apresentam maior probabilidade de desenvolver complicações placentárias.

  5. Multiparidade: a presença de múltiplas gestações aumenta o risco de acretismo devido a alterações anatômicas e fisiológicas no útero ao longo das gestações.


Imagem de mulher dentro de banheira com bebê no colo.

Diagnóstico do acretismo placentário


O diagnóstico precoce do acretismo placentário é essencial para o planejamento adequado do parto e para reduzir o risco de complicações graves.


Os métodos de diagnóstico mais comuns incluem:


1. Ultrassonografia obstétrica

A ultrassonografia transabdominal ou transvaginal é o exame de primeira linha para diagnóstico do acretismo placentário.


Sinais ultrassonográficos de acretismo incluem:

  • Lacunas vasculares no miométrio: áreas irregulares de vascularização aumentada, visíveis no miométrio.

  • Aperto da interface entre placenta e miométrio: o desaparecimento da linha hiperecoica entre a placenta e o miométrio sugere invasão placentária.

  • Espessura reduzida do miométrio: pode ser um indicativo de penetração anormal da placenta.



2. Ressonância Magnética (RM)


A ressonância magnética é utilizada em casos onde o diagnóstico é inconclusivo ou para avaliar a extensão da invasão em casos suspeitos de placenta percreta.


A RM permite uma avaliação mais detalhada do miométrio e das estruturas adjacentes.



3. US com Doppler


O US com Doppler é um método complementar que avalia a vascularização da placenta e do miométrio, ajudando a diferenciar o acretismo placentário de outras condições placentárias.



Manejo do acretismo placentário


O manejo do acretismo placentário depende da profundidade da invasão, da condição clínica da paciente e da equipe disponível para conduzir o parto. O objetivo é garantir um parto seguro, minimizando o risco de hemorragia e preservando a saúde da mãe e do bebê.



1. Planejamento pré-natal e cuidados antecipados


Uma vez que o diagnóstico de acretismo é estabelecido, o planejamento do parto é essencial. Recomenda-se que o parto seja realizado em um centro especializado, com equipe multidisciplinar, incluindo obstetras, anestesiologistas e cirurgiões especializados.



2. Indicação de cesariana programada


O parto geralmente é agendado por cesariana eletiva entre 34 e 36 semanas, para reduzir os riscos de trabalho de parto espontâneo e ruptura do útero. Em casos de placenta percreta, a abordagem cirúrgica deve ser ainda mais cautelosa, pois o risco de sangramento e necessidade de histerectomia é elevado.



3. Histerectomia profilática


Nos casos graves, especialmente de placenta increta e percreta, a histerectomia profilática (remoção do útero) pode ser indicada após o parto para prevenir hemorragia grave. Esse procedimento é especialmente recomendado quando a placenta não pode ser separada do útero sem causar danos graves ao órgão.



4. Embolização das artérias uterinas


A embolização das artérias uterinas pode ser realizada antes ou após o parto, visando reduzir o fluxo sanguíneo para o útero e, assim, minimizar o risco de hemorragia. Esse procedimento é indicado em casos onde se deseja evitar a histerectomia e preservar o útero.



5. Transfusão de hemoderivados


A disponibilidade de hemoderivados (sangue, plaquetas e plasma) é essencial para o manejo de acretismo, visto que hemorragias maciças são comuns. A transfusão de sangue deve ser antecipada, e o hospital deve estar preparado para oferecer suporte com hemoderivados.



Complicações associadas ao acretismo placentário


O acretismo placentário está associado a várias complicações, que podem ter implicações graves para a paciente.


Entre as principais complicações, destacam-se:

  1. Hemorragia pós-parto: a perda significativa de sangue é uma das complicações mais comuns e graves, especialmente em casos onde a placenta não se separa do útero após o nascimento.

  2. Ruptura uterina:em casos de placenta percreta, a invasão completa do miométrio pode resultar em ruptura uterina, uma emergência obstétrica que coloca em risco a vida da mãe e do bebê.

  3. Infecção pélvica: a manipulação extensa do útero e o risco de retenção de fragmentos placentários aumentam o risco de infecção no pós-parto.

  4. Incontinência e disfunção urinária: em casos de invasão da bexiga, podem ocorrer complicações urinárias, como incontinência e formação de fístulas.

  5. Histerectomia: às vezes necessária para controlar a hemorragia e impedir que a condição cause maiores complicações.



Prevenção do acretismo placentário

Embora o acretismo placentário não possa ser prevenido em todos os casos, algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco dessa complicação:

  1. Evitar cesarianas desnecessárias: cada cesariana adicional aumenta o risco de acretismo, por isso, é fundamental realizar o procedimento apenas quando houver indicação médica clara.

  2. Acompanhamento pré-natal de alta qualidade: realizar ultrassonografias detalhadas e acompanhamento regular ajuda a identificar precocemente condições placentárias anormais.

  3. Planejamento familiar e de gestações futuras: mulheres com histórico de cesarianas ou cirurgias uterinas devem considerar os riscos para gestações subsequentes e discutir o acompanhamento com o médico.

  4. Escolha cuidadosa do local de parto: pacientes com fatores de risco devem realizar o parto em centros de referência para garantir que a equipe e os recursos necessários estejam disponíveis.


O acretismo placentário é uma condição complexa e potencialmente fatal que exige diagnóstico precoce, planejamento cuidadoso e intervenção de uma equipe multidisciplinar.


Com o manejo adequado, é possível reduzir os riscos e oferecer um atendimento seguro para as pacientes.


A compreensão dos fatores de risco, métodos de diagnóstico e opções de tratamento permite que médicos e profissionais de saúde tomem decisões informadas para o bem-estar da mãe e do bebê.

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